Com o titulo “Que a solidariedade seja o milagre deste Natal”, eis artigo de Suzete Nocrato, jornalista e mestra em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. “Que este período nos inspire a cultivar a bondade de forma genuína, não apenas no calendário festivo, mas nos dias comuns. Que a caridade se torne hábito, escolha diária, maneira de estar no mundo. Que possamos ser humanos, com mais luz, mais cuidado e mais amor”, expõe a articulista.
Confira:
Minhas amigas de um grupo de mulheres nascidas em Saboeiro da qual faço parte decidiram que, neste Natal, não trocaremos presentes. Um gesto simples, mas carregado de intenção: recusar o consumismo que nos compra e nos cansa. Em outro grupo, que também integro, a escolha foi transformar esse período em pertencimento para dezenas de pessoas excluídas, seja pelo poder público, seja pela própria família.
Realidade atravessada pelo egoísmo. Doaremos alimentos, afeto, escuta, vivências, tempo, que é o bem mais escasso e, talvez, o mais valioso.
Nos dois grupos, percebo um movimento de retorno ao espírito natalino em sua essência. Uma tentativa de reviver os ensinamentos de Jesus, não em narrativas, mas em gestos; não apenas na fé, mas na prática.
Para mim, é irrelevante se as origens do natalício remontam à Mesopotâmia, milênios antes do nascimento de Jesus, ou se a data foi instituída, no século IV pela Igreja Católica, alinhada à Páscoa judaica. O que importa é o aniversariante e a mensagem que ele deixou à humanidade de amor ao próximo, respeito às diferenças, solidariedade como caminho de transformação.
Num tempo em que a sociedade corre sem rumo e adoecida, a prática do bem se torna um antídoto. Vivemos cercado de violências — feminicídios, ataques gratuitos, jovens com problemas mentais, redes sociais usadas para disseminar ódio e mentiras, descaso com a vida. E, diante desse cenário, é impossível não lembrar da coragem evangelizadora do padre Júlio Lancelloti, que se mantém firme ao lado da população em situação de rua de São Paulo. Entre ameaças, medos e discursos distorcidos daqueles que usam a Bíblia como escudo para seus interesses, ele segue firme. Não desfila devoção; pratica o amor.
A festa natalina também carrega seus paradoxos. De um lado, a idolatria ao Papai Noel e ao consumo, tão bem alimentado pela publicidade que arrasta multidões aos shoppings, lojas e departamentos em busca de presentes desnecessários ou não. De outro, uma delicada atmosfera que parece pousar sobre todos nós, na certeza de que pequenos gestos acendem esperança, um abraço acalma, uma escuta acolhe, um olhar reconhece o outro como humano.
Que este período nos inspire a cultivar a bondade de forma genuína, não apenas no calendário festivo, mas nos dias comuns. Que a caridade se torne hábito, escolha diária, maneira de estar no mundo. Que possamos ser humanos, com mais luz, mais cuidado e mais amor.
Desejo que este Natal aconteça dentro de nós.
*Suzete Nocrato
Jornalista e Mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará.