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“Turismo 2023 – As consequências em números”

Allan Aguiar, ex-titular da Setur do Ceará. Foto: Abav

Com o título “Turismo 2023 – As consequências em números”, eis artigo de Allan Aguiar, que foi secretário do Turismo do Ceará na época em que Lúcio Alcântara governou o Estado. Para ele, o pior ano da história do segmento no Estado.

Confira:

O balanço da gestão do Turismo em 2023 já pode ser conhecido. Os números que começam a ser revelados, no acumulado até novembro passado, já permitem afirmar, com boa segurança, que o setor nada tem a comemorar. Os números de dezembro a serem conhecidos em meados deste mês de janeiro não serão capazes de evitar o pior ano da história do turismo cearense desde os anos da pandemia (2020 e 2021), os quais não entram nas análises das séries históricas em face de ter, literalmente, parado todos os atores dessa atividade.

Os principais indicadores que medem o desempenho de destinos turísticos já estão publicados e trazem números nada animadores. Um dos mais relevantes é o que contabiliza a movimentação de passageiros pelo modal aéreo que, no caso cearense, tem no aeroporto de Fortaleza seu principal e majoritário portão de entrada no Estado.

Com uma movimentação total (partidas + chegadas) de 5.073.525 passageiros, 2023 conseguiu piorar ainda mais o péssimo 2022 que marcou 5.230.742, diante de 2019 que alcançou 6.515.841. Ou seja, o recuo deste ano foi de 3% frente ao ano passado, inaugurando um novo pior ano, e 22% frente a 2019. O resultado é que desde 2019 o aeroporto da capital cearense perdeu quase 1,5 milhões de partidas e chegadas. Como, na prática, turista que chega também parte, estamos falando de algo perto de 750.000 pessoas a menos circulando em Fortaleza/Ceará. É um número muito preocupante e que só explica a crise que estrangula o setor, afinal a falta desses brasileiros e estrangeiros pode ser traduzida em fechamento de hotéis e desemprego, como acontece em plena beira mar de Fortaleza.

Quando recortamos destes números o fluxo turístico internacional a coisa fica ainda pior. Em 2019 verificou-se uma movimentação de 512.610 passageiros contra 264.498 em 2023, representando um queda inacreditável de quase 50%. Ou seja, cerca de 125.000 desembarques internacionais a menos. O Ceará hoje recebe metade dos turistas internacionais que recebia há 20 anos.

Examinando o modal marítimo e os números da temporada de atracação de navios de cruzeiros no porto do Mucuripe, constata-se que Fortaleza foi simplesmente riscada do mapa. Se no já distante passado chegavam pífios 20 a 25 cruzeiros, hoje espera-se perto de 11. Mas o impacto benefício econômico desses turistas de transatlânticos são muito reduzidos por ficarem poucas horas e muitos sequer desembarcarem.

Faltou falar do modal rodoviário cujos números são bem difíceis de serem avaliados. Outros nordestinos que chegam aqui por esse modal e seus impactos na dinâmica da economia do Turismo ainda são um desafio estatístico. Quando chegam em ônibus interestaduais fica mais fácil de mensurar diante da quase invisibilidade dos que usam automóveis.

De qualquer modo, resta claro que Fortaleza tem puxado o Ceará para trás quando o assunto é turismo. Quando olhamos para outros destinos independentes, como Jeri, Cumbuco, Beach Park e outras praias como Icaraizinho, Fortim, Flexeiras, Preá, etc. pode-se constatar que a conjuntura vem impulsionando o investimento privado que vem disponibilizando bons meios de hospedagem, gastronomia, animação e, com isso, incrementando o fluxo turístico. Contudo, releva demais registrar que o turismo no Ceará se resume as praias. Nao existe mais políticas públicas de interiorização do Turismo. O Turismo no espaço rural e natural praticamente acabou no nosso Estado. Sertão Central, Cariri, Inhamuns, Ibiapaba, Vale do Salgado, etc. não sabem mais o que são turistas nacionais e internacionais.

Quanto a Fortaleza é fácil aferir as anomalias que adoeceram nossa capital e são responsáveis por seguidos números negativos que tanto afetam todo o Estado, pela importância de qualquer capital nas contas estaduais. Sendo assim, sem Fortaleza forte e sadia o turismo cearense não tem chance de prosperar e sair da atual inércia.

No âmbito do setor privado seguidos balanços negativos são causa de troca de gestores, estratégias e métodos. Mas no setor público, seguidos prejuízos sociais como este são motivos de premiação e promoção pessoal dos seus autores. Afinal, quem paga a conta desse caos todo são exatamente os que precisam dos empregos e da renda não geradas.

Sendo assim, Feliz Ano Velho turismo cearense.

Que neste 2024 tenhamos números dignos e compatíveis com essa nossa mais clara vocação econômica.

*Allan Aguiar,

Ex-secretário do Turismo do Ceará.

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