Com o título “Inovação e descarbonização no neoindustrialismo do Brasil”, eis artigo de Cândido Henrique de Aguiar Bezerra, geógrafo e estrategista em sustentabilidade industrial do SENAI-CE/FIEC. Ele aborda tema do momento que interessa ao mercado.
Confira:
As mudanças climáticas já fazem parte do cotidiano das pessoas e os impactos advindos dessas alterações tem tomado toda a pauta de fóruns empresariais e econômicos pelo mundo, dentre os quais, destacamos o Fórum Econômico Mundial em Davos na Suiça. Diante desta nova realidade, as empresas, tem buscado por soluções sustentáveis para se adaptarem bem como mitigarem os efeitos negativos dos impactos econômicos ocasionados pela crise climática e com isso mecanismos econômicos como o proposto em 1997 na conferência das Nações Unidas em Quioto, tem ganhado destaque nesse novo arranjo econômico.
O mecanismo de desenvolvimento limpo, MDL é um instrumento que permite aos países industrializados que têm metas obrigatórias de redução de emissões financiarem projetos de mitigação em países em desenvolvimento, como o Brasil. O conceito é baseado na ideia de que a atmosfera não faz distinção entre as emissões de gases de efeito estufa provenientes de diferentes partes do mundo. Assim, é mais eficiente reduzir emissões onde o custo de mitigação é menor.
Os principais elementos do MDL incluem:
1. Projetos de Mitigação de Emissões: Países industrializados podem investir em projetos que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa em nações em desenvolvimento. Esses projetos podem incluir a implementação de tecnologias mais limpas, práticas agrícolas sustentáveis, projetos de energia renovável, entre outros.
2. Créditos de Redução Certificada de Emissões (CERs): Quando um projeto de mitigação é implementado com sucesso e suas reduções de emissões são verificadas, são gerados créditos de redução certificada de emissões. Cada CER representa uma tonelada métrica de dióxido de carbono (CO2) equivalente que deixou de ser emitida.
Comércio de Emissões: Os países industrializados podem usar esses créditos (CERs) para cumprir parte de suas metas de redução estabelecidas no Protocolo de Quioto. Isso cria um mercado internacional de carbono, onde os países podem comprar e vender créditos, incentivando a eficiência e a redução de emissões onde for mais economicamente viável.
Porém o protocolo de Quioto havia perdido forças e estava quase natimorto até quando em 2015 na COP ocorrida em Paris voltou com forças renovadas a parti de um Acordo assinado por 196 países que substituiu o antigo protocolo de Quioto. Esses países signatários do Acordo de Paris correspondem a mais de 90% das emissões atmosféricas antrópicas do mundo, que dentre vários objetivos propostos destaco a tentativa de manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2°C, em relação à média pré-industrial, nesse século. Contudo, procura-se limitar o aumento da temperatura até 1,5oC e a transferência de tecnologia e financiamento de cerca de US$ 100 bilhões anuais entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos para a manutenção das ações contra as mudanças climáticas.
O Brasil foi um dos 196 países signatários do Acordo de Paris, com metas de redução de suas emissões de gases do efeito estufa (GEE) em até 37%, em relação aos níveis de emissão de 2005, até 2025 e de 43% até 2030, essas metas foram revisadas e alteradas pelo Brasil na COP-28 em Dubai no fim de 2023, para 48% até 2025 e de 53% até 2030, em relação a 2005, reforçando as negociações geradas dentro do mercado de créditos de carbono e principalmente impulsionando os investimentos em inovações em tecnologias limpas de descarbonização.
Desta forma os projetos em tecnologias de baixo carbono surgem como um dos principais caminhos para o atingimento das metas comprometidas, fortalecendo o processo de descarbonização da indústria brasileira que segue agora uma trajetória progressiva de redução da dependência produtiva dos combustíveis fósseis, sendo substituídos por novas tecnologias utilizadoras de materiais e energias renováveis ou de baixo carbono. Esses projetos de descarbonização da economia via inovações em tecnologias de baixo carbono foram novamente lembrados e se tornaram a principal via do recente plano de neoindustrialização do governo federal, lançado neste mês de janeiro em Brasília, com investimentos de 300 bilhões de reais até 2026.
Todo esse empenho voltado para o avanço tecnológico pode ser mensurado dentro de um projeto de mecanismo de desenvolvimento limpo, onde a diferença obtida com a redução das emissões de GEE possibilitam a geração de créditos de carbono certificados que são validados por organismos certificadores de créditos de carbono dentro do mercado voluntário.
Diversas empresas do Ceará possuem esse potencial para obtenção de créditos de carbono dentro do ascendente mercado voluntário, notoriamente as empresas de geração de energias renováveis e aquelas que implantam e desenvolvem projetos de inovação em tecnologias de descarbonização aos seus produtos e processos produtivos, tornando-se empresas mais sustentáveis com objetivos definidos para chegar no netzero para a sua geração em GEE, tornando-se parte do qualificado clube de empresas inseridas na economia de créditos de carbono dentro do mercado voluntário, negociando seus créditos obtidos para outras empresas que necessitam neutralizar suas emissões de GEE e não conseguem se não for através da compra destes créditos de carbono certificados.
Neste novo cenário, o Senai do Ceará tem se estabelecido como um importante player parceiro para inovação sustentável nas empresas cearenses, atuando não apenas com a qualificação profissional da mão de obra produtiva, mas principalmente apoiando e fomentado inovações sustentáveis de baixo carbono como ocorrido no edital SESI/SENAI de transição energética onde foi investido significativo valor em pesquisa e inovação para tecnologias em energias renováveis, com especial atenção a produção de Hidrogênio Verde – H2V.
Os desafios sempre fizeram parte daquelas empresas que buscam evoluir e crescer de forma sustentável e contínua, agora com a consolidação do mercado de créditos de carbono, esses desafios ficam pormenorizados garantindo que a inovação ganhe forte impulso para levar em definitivo o Brasil para uma economia circular, regenerativa e de baixo carbono, caminhando desta forma em uma direção onde a viabilidade econômica e a sustentabilidade ambiental seguem juntas em um mesmo trajeto, garantindo assim a prosperidade do pais neste novo momento da neoindustrialização brasileira.
*Cândido Henrique de Aguiar Bezerra
Geógrafo, estrategista em sustentabilidade industrial do SENAI-CE/FIEC.
Ver comentários (1)
O compromisso com a descarbonização deve ser levado a sério por todos os países. A natureza já está respondendo aos "ataques" que recebeu . Estamos assistindo a todo tipo catástrofes que assolam a natureza e homem.
Muito mais tranquila em ver um olhar e comportamento voltado para essa preservação.
Pessoas estudiosas e comprometidas vão fazer a diferença, conscientizando e entusiasmando a população para fazer acontecer.
Bravo, Ike! 👏👏👏