Com o título “Política como serviço”, eis artigo de Fátima Vilanova, professora e doutora em Sociologia. “A política virou profissão, um ativo econômico, transmitido de pai para filho, por gerações”, lamenta a articulista.
Confira:
Vivemos tempos sombrios na política brasileira. Muita polarização, discurso de ódio, fake news. Dois personagens tiram proveito da situação, um pela direita, Bolsonaro, outro pela esquerda, Lula. Postam-se como salvadores. De quê? Deles mesmos, de sua vaidade, narcisismo doentio, sede de poder. Para quê? Para servir? Não parece.
Problemas sérios do Brasil continuam intocados, sendo o mais emblemático, o da violência, pela presença do crime organizado, das facções e milícias, que se disseminam, alcançando todos os estados da federação, incluindo os rincões. Entra governo e sai governo, e esta situação permanece sem solução. Cada instância de governo segue em seu “quadrado”, sem articulação com a Polícia Federal, e instâncias de controle para o combate à lavagem de dinheiro, sem Polícias Civis equipadas, qualificadas, modernizadas, sem informação compartilhada, sem trabalho de inteligência, sem plano conjunto de enfrentamento.
Continuamos elegendo os mesmos, que se perpetuam na política, nos governos e parlamentos municipais, estaduais e da União. A política virou profissão, um ativo econômico, transmitido de pai para filho, por gerações. Uma herança almejada por muitos e, muitas vezes, fonte de enriquecimento ilícito. A corrupção dá as cartas, a compra de votos campeia. Muitos se elegem por esse artifício, fazendo caixa em licitações fraudulentas para abastecer campanha, e, eleitos, legislam para dificultar o alcance da Justiça.
A sangria do dinheiro público, propiciada pelas emendas parlamentares, fundos partidários e eleitorais e despesas milionárias de mandato dão a tônica da injustiça presente na política, do distanciamento dos representantes em face dos representados, a população. Tanta miséria circundante, e tanto esbanjamento de impostos nas Casas Legislativas, pagos com sacrifício por todos. Isto não pode continuar. É criminoso. E tudo é fruto da perpetuação no poder. Ela é a mãe de todos os vícios da política.
O Parlamento tem como atribuições, legislar e fiscalizar o Executivo, discutir os problemas da população, ouvindo as demandas, e propor soluções. As emendas parlamentares constituem anacronismo, pois nosso sistema de governo é presidencialista e não parlamentarista, além do que configuram conflito de interesse. Falta dinheiro nos Executivos para o atendimento às necessidades mais elementares da população, tendo as emendas parlamentares virado moeda de troca, de chantagem, e corrupção. Isto não pode continuar.
O que fazer? Proponho o fim da reeleição para todos, de vereador a presidente da República, mediante o exercício de um mandato apenas, de quatro anos, como serviço relevante, além do fim das emendas parlamentares e de penduricalhos dos Legislativos. A política voltaria a ter o seu sentido original de servir, de busca da felicidade para todos, sendo o seu exercício motivo de honra, baseado na dignidade, transparência, e zelo pela coisa pública. O fim da reeleição para todos e das emendas parlamentares precisa ser discutido pela sociedade brasileira, culminando com plebiscito para aferir a posição dos eleitores em relação às medidas para o avanço da democracia.
*Fátima Vilanova
Professroa e doutora em Sociologia.
Ver comentários (6)
Espetacular….fotografia do política rasteira que domina o Brasil!
Parabéns Dra.Fátima Vilanova
Obrigada!
Bom dia, Dra. Fátima Vilanova !
Fiquei verdadeiramente impressionada com a profundidade das análises e a clareza com que a autora abordou esse tema tão relevante.
Parabéns, Dra Fátima Vilanova
Obrigada! Abraço
Brilhante artigo! Clareza no tema apresentado, e proposta com mudanças relevantes. Parabéns, Dra. Fátima Vilanova.
Obrigada! Abraço.