“20 de novembro: tardia consciência negra” – Por Luiz Carlos Diógenes

Luiz Carlos Diógenes é escritor. Foto: Divulgação

Com o título “20 de novembro: tardia consciência negra”, eis artigo de Luiz Carlos Diógenes, escritor. “O sistema educativo-cultural nacional pode ser um passo para a ruptura intergeracional do racismo tatuado na (in)consciência de um povo”, expõeo articulista.

Confira:

O racismo estrutural, institucionalizado, entulha a porta de entrada ao desenvolvimento civilizacional brasileiro, condicionado na concretização da cidadania democrática igualitária. O fim de mais de 300 anos de estrada ampla da escravidão legal continuou nas sombrias sendas da dissimulada escravidão marginal. A inércia estatal permite a difusão de estereótipos discriminatórios e paradigmas culturais, tão cientificistas quanto ideológicos, que inferiorizam seres humanos pela cor da pele.

A consciência ética, hegemônica, nacional, também se inferioriza perante o monstro do preconceito que ainda reside em nossas cabeças, civilizadas e cordiais. O delírio do embranquecimento espreita na mesma moita do reacionarismo cego. Destruir este monstro que povoa o céu da mentalidade do povo brasileiro requer uma luta permanente em muitas frentes.

A Constituição Cidadã de 1988 garante a universalização e igualdade radical dos direitos inalienáveis/inabdicáveis da dignidade humana. Políticas de Estado afirmativas da igualização concreta, para além da igualdade na lei, estão sendo construídas. Como exemplo de investida para romper este pacto intergeracional de mesma cepa racista, em 2003, a LDB foi acrescida de novos artigos, através da Lei 10639. O Dia Nacional da Consciência Negra, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, ficaram consignados. Neste mesmo sentido de valorização da cultura africana na formação do Estado nacional, surge a Lei 14759/2023, estabelecendo o 20 de novembro como feriado nacional. Deslegitimar o supremacismo branco vai além das leis.

O sistema educativo-cultural nacional pode ser um passo para a ruptura intergeracional do racismo tatuado na (in)consciência de um povo. Falamos de uma política estatal criativa, ousada e determinada, com diálogo interfederativo, inaugurando no calendário nacional uma nova semana cívica e civilizatória, culminando em 20 de novembro. Festa epifânica com Zumbi herói, orgulho nacional. Dia da Consciência Negra, embora tardia, levantando escolas e praças deste país tropical. Oxalá: um futuro que não repita o passado.

Axé!

*Luiz Carlos Diógenes

Escritor.

lucadiogenes@hotmail.com

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