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“Sexualidade Metaforizada”

Zenilce Bruno é psicóloga e sexóloga. Foto: Arquivo

Com o título “Sexualidade Metaforizada”, eis artigo de Zenilce Bruno, psicóloga e sexóloga. “A imortalidade da sexualidade está em sua potencialidade metafórica, na eterna juventude de suas imagens, na verdade de seu valor humano”, expõe a articulista.

Confira:

Há um sentido implícito no ato de escrever algo que reúna poesia e sexualidade. É que o devaneio poético remete ao mundo dos valores da intimidade. É no território da intimidade que os dois aspectos se reúnem. A poesia é um olhar íntimo escrutinador da emoção, é o familiar dissolvendo-se no estranho, um estranho que é mais além, quase divindade. Emoção poética proporciona tanto uma verticalização da experiência vivida, como também daquilo que se escreve acerca da questão. Diria que, quando não se consegue mais conter a emoção de algo vivido, escreve-se um poema. Como se a poética fosse inevitável ao dizer melhor o que se encontra muito dentro de nós.

Há uma poética que é silenciosa. Diria que é um estado que se experimenta quando cessa toda operação intelectual. Como uma embriaguez possuindo o ser. É aí que se revela o espírito em sua condição inominável. Essa emoção mantém-se no terreno do não dito, porque não há verbo para pronunciá-la. O silencio terá de ser a plenitude da linguagem. Só o sentir tem lugar. Há também uma poesia dolorosa. Aquela que é vivida na dor que acompanha o amor. Às vezes, a incerteza amorosa do outro machuca tanto quanto a separação. Mesmo assim, o amante dá uma chance, um tempo, aguarda, até que, no cansaço da espera, desiste, acorda para o cuidado de si, de sua autoestima.

É entre espasmos de prazer e dor que se constrói a experiência amorosa. O doer amoroso não torna menor nem reduz o sentido e a importância do que é vivido. Como se uma dimensão exigisse a outra para o fechamento da experiência, como o desejo que só se dá na falta. Conhecemos o prazer intenso pela mesma capacidade que temos de viver a dor. A sensibilidade é a mesma. Neste sentido, é equivocado esconder-se da dor, negá-la. Ela ensina muito ao integrar a experiência amorosa. Afinal, se sofremos por amor, é porque o outro é muito importante para nós. O que não se pode é cristalizar na dor, porque amar e ser amado ainda é a suprema ventura

Mas, também, outros gestos podem fazer adormecer, inibir em nós, o encantamento do extraordinário: a incapacidade do outro de dizer que ama, seu ritmo bioexistencial em descompasso, sua incompetência gestual, seu desinteresse pelo romântico, sua cristalização no igual, sua morosidade no criar. Tudo pode ser ora maravilhoso, ora frustrante. Estagnamos a relação se nos detivermos na ilusão da perfeita unidade, na utopia da completude, se não pudermos suportar e amar o outro como ele é: insuportável e maravilhoso. Diria que a relação amorosa é uma busca inquietante e que isso promove um desassossego que nos faz permanecer num devir constante.

A imortalidade da sexualidade está em sua potencialidade metafórica, na eterna juventude de suas imagens, na verdade de seu valor humano. O genital que nos proporciona tanto prazer tem um tempo, sofre oscilações, depende de situações, cumpre o destino prazeroso e procriativo. Mas a exuberância poética é propaganda de liberdade, é caminho sem limite, é totalidade possível. Sempre escrevo sobre sexualidade, mas hoje o faço ressaltando a poesia em homenagem aos amantes e poetas, pois do alto de nossa racionalidade bem-comportada, os escritos e gestos amorosos podem parecer ridículos quando lidos ou assistidos por uma pessoa desamada e desamante.

Viver o amor é mais difícil do que desejamos, mesmo em sonhos!

*Zenilce Bruno,

Psicólga e sexóloga

zenilcebruno@uol.com.br

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