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“Cobais da Insegurança Pública”

Irapuan Aguiar, advogado e professor. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Cobais da Insegurança Pública”, eis artigo de Irapuan Diniz de Aguiar, advogado e professor. “Só haverá sucesso para a segurança pública, para a diminuição da violência e da criminalidade e da construção de presídios, quando o próprio governo e determinadas empresas resolverem não mais ganhar, direta ou indiretamente, com o crime e com o medo da população”, expõe o articulista.

Confira:

Diante da comprovação do aumento da venda de armas e munições e dos seguros contra os crimes; do crescimento das empresas de aparelhos eletrônicos para a prevenção de furtos e roubos; do progresso das firmas de vigilância e serralherias produtoras de grades de cerro e alumínio duro; do sucesso de audiência de emissoras de rádio e televisão com programas sobre a violência e a criminalidade com retorno econômico rápido, assim também com os jornais e revistas que, para conservarem leitores ávidos dessas notícias, mantêm cadernos e especialistas nessa área; de alguns indivíduos que, para melhorarem seus currículos e até alçarem voos na política, apresentam estatísticas e proferem discursos sobre segurança pública; com as delegacias de polícia lotadas com fatos para registro e outros tantos para apuração e os fóruns criminais abarrotados de processos para julgamento; com os presídios – xadrezes, cadeias, penitenciárias – superlotados, cumpre questionar: quem está ganhando com a criminalidade e a violência ou com o medo delas decorrente?

Sempre foram criticadas as velhas oligarquias porque se utilizavam do Estado em proveito próprio, usando de ‘sua’ polícia, em regra, como instrumento de opressão e repressão contra os opositores ou contra qualquer do povo que começasse a se conscientizar. Todavia, em tempos mais recentes, envolvida por promessas ao ‘pé do ouvido’ e pela propaganda massificante, não raramente, a organização policial ainda vem se prestando, em troca da permanência de homens vaidosos nos cargos de chefia ou comando, a servir como massa de manipulação eleitoreira, produzindo espetáculos, sem “descobrir” que sua administração e destinação e o seu compromisso têm um só beneficiário: a sociedade em sua totalidade, e não este ou aquele grupo ou indivíduo.

Para alguns “entendidos”, assim como para outros “inocentes úteis”, com uma arma para cada cidadão – em casa, no trabalho ou em trânsito – e com o policial preparado militarmente para acertar ‘na mosca’, subir numa corda, pendurar-se na porta de uma viatura ou saltar de um helicóptero, a segurança pública está perfeita. Se o “combate”, as “caçadas”, os prejuízos e as mortes propiciam maiores dividendos políticos e econômicos a certos governantes e a certos empresários, por que investir na prevenção? Se a segurança pública não dá retorno, mas, sim, a insegurança pública, fiquemos com esta, ainda que deixando transparecer que nos preocupamos com aquela. (Ao que parece, é assim que pensam citadas pessoas).

Só haverá sucesso para a segurança pública, para a diminuição da violência e da criminalidade e da construção de presídios, quando o próprio governo e determinadas empresas resolverem não mais ganhar, direta ou indiretamente, com o crime e com o medo da população. Por isso, faz-se inadiável um choque contra os especuladores desse ‘filão do pavor’. Do contrário, se não mudarem, em profundidade, estruturas, mentalidades e formas de comportamento, nos Três Poderes do Estado e em grandes empresas privadas, não haverá remédio para a segurança pública, pois, investir nos efeitos e esquecer das causas é, sem dúvida, preparar o terreno fértil e rentável para manutenção de cobaias da insegurança pública.

*Irapuan Diniz de Aguiar

Advogado e professor.

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