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“A barbárie é real”

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “A barbárie é real”, eis artigo de Djalma Pinto, advogado e mestre em Ciência Política. “Um servidor da área de saúde ser degolado, no seu ambiente de trabalho, acende todos os sinais possíveis e imagináveis da triste constatação de que o estado de barbárie se instalou entre nós”, expõe o articulista.

Confira:

O Brasil foi impactado com as imagens de uma pessoa degolada, no principal hospital de emergência de Fortaleza. A cidade, é verdade, já se encontra anestesiada, convivendo, sem sobressalto, com as atrocidades cometidas pelas facções, que submetem os moradores indefesos aos caprichos de seus integrantes.

Um servidor da área de saúde ser degolado, no seu ambiente de trabalho, acende todos os sinais possíveis e imagináveis da triste constatação de que o estado de barbárie se instalou entre nós. A linha de selvageria do Hamas está presente por aqui. A questão, que precisa ser investigada, é como chegamos a tanto e o que fazer para reverter esse quadro tão doloroso? Temos muitas leis penais, mais precisamente, textos nos códigos, contendo descrições de condutas reprimidas com sanção. As normas abstratas neles contidas, todavia, não estão incorporadas no espírito das pessoas para sua espontânea observância. Isso explica por que tantos furtos e homicídios.

A falha reside na incapacidade de educar crianças e jovens para a cidadania. Para a convivência harmônica dentro da sociedade. Nem a escola nem a família têm se preocupado com a propagação dos valores da empatia, da justiça como virtude e da solidariedade, que formam o alicerce, ou seja, a base para contenção da violência. O aparato repressor do Estado não cumpre, satisfatoriamente, o seu papel. Prova disso é a flagrante constatação de ser desafiado, diariamente, por um número crescente de delinquentes.

Um fato, já esquecido, pode explicar o potencial de audácia da criminalidade e sua ousadia para desafiar as autoridades. A eleição de 2018 ocorreria no dia 7 de outubro. No dia 19 de setembro, o G1-CE noticiou: “Detentos do Ceará terão “pernoite do Dia dos Presos” com companheiras no próximo fim de semana. Internos ficarão na companhia das mulheres na noite de 22 para 23 de setembro em 13 unidades prisionais do estado”.

O Sindicato dos Agentes Penitenciários, em vão, mas com muita veemência, reagiu por seu presidente, Paulo Sérgio Medeiros: “a regalia só aumenta a revolta dos agentes, porque os servidores estão sendo mortos pelas facções e, ao invés do Estado promover a ordem, oferta benefícios aos presos” (DN, 20/09/2018). Há 15 dias das eleições daquele ano, o afago aos infratores, além do ostensivo desvio de finalidade, estimulava a sensação de impotência dos agentes da lei diante da força política dos presidiários, denunciada pelos servidores do respectivo setor.

O nível de violência, por todos hoje constatado, não permite outra conclusão: nossa sociedade está enferma. Encontra-se em uma semi-uti. Pela gravidade dessa pandemia, há necessidade de novos dirigentes com receituários completamente diferentes. A terapia, com ênfase na condescendência, utilizada pelos que comandam a nossa governança, desaguou nessa situação espantosa de retorno à barbárie. Muitos indivíduos não conseguem conter os seus impulsos selvagens. A falha na educação é gritante, por nela não ser incluída a assimilação de valores. A consequência é a impossibilidade de utilização de um celular na rua, sem risco de assalto.

Não poderia ser outro o desfecho para as pessoas, em um grupo social em que vereadores, sem compromisso algum com a qualidade do ensino, indicam diretores de colégio público. No ambiente em que se desvia, impunemente, verba da educação, a criminalidade, inevitavelmente, amplia os seus tentáculos.

A expressão “ordem e progresso”, contida na bandeira do Brasil, sequer serve de farol sinalizador para a conquista da ciência, do pregresso e da paz, sonhada por Kant. Para alcançá-la, é essencial disponibilizar escola de qualidade para todos, sem “rachadinha”, na compra de livros, e com a sua direção pautada na eficiência. Sem isso, a selvageria preponderará nas pessoas, que desafiam às leis e seus aplicadores, infernizando a vida de todos. A barbárie assusta, choca e espanta, mas é real.

*Djalma Pinto

Advogado, Mestre em Ciência Política e autor de diversos livros, entre os quais Ética na Política, Cidade da Juventude e Distorções do Poder.

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