Com o título “Sensação de (In)segurança”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel RR da PMCe, especialista em Segurança Cidadã e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. Ele aborda o medo que ronda o cearense nos últimos meses, com o avanço da violência.
Confira:
O medo é um sentimento intenso, que está presente em todos os seres vivos desde a infância, é um mecanismo de defesa que nos leva a reagir ante situações que nos põe em risco.
No mundo ocidental nascemos e crescemos numa cultura do medo. Em âmbito social, este sentimento pode estar presente e se manifestar em uma pessoa ou até mesmo em toda cidade. O medo se relaciona com outros sentimentos que estão estreitamente vinculados com a percepção sociocultural.
As notícias que promovem uma ideia de violência, que infelizmente é veiculado na maioria dos noticiários e nas postagens das redes sociais, geram nos seus espectadores ou leitores desesperança e vulnerabilidade, aumentando o sentimento de medo e temor de se tornar uma vítima da violência. Percebe-se ainda que certos lugares que os jornalistas afirmam estar dominados pelo crime são na verdade bastante seguros. Essa sensação de perigo e de medo modifica a conduta das pessoas, restringe a sua liberdade, assim como a sua capacidade de formar relacionamentos.
Qualquer que seja a causa, o medo do delito pode ter um efeito danoso sobre a qualidade de vida dos indivíduos e da própria urbe. Muitas vezes esse medo é maior do que realmente deveria ser. Isso pode gerar problemas psicológicos no indivíduo o distanciando cada vez mais da vida social e comunitária.
Caso uma pessoa tenha passado por uma situação de violência ou tenha visualizado uma cena de violência na TV ou internet e isso modificou o seu comportamento, restringindo ir a alguns lugares ou sair em determinados horários, preferindo ficar mais em casa, provavelmente essa pessoa se sente insegura na sua cidade. A música “Calibre”, do grupo Paralamas do Sucesso, descreve de forma poética essa sensação de insegurança:
Por que caminhos você vai e volta?
Aonde você nunca vai?
Em que esquinas você nunca para?
A que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você já perdeu?
Entrincheirado, vivendo em segredo
E ainda diz que não é problema seu
E a vida já não é mais vida
No caos ninguém é cidadão
As promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
Perdido em números de guerra
Rezando por dias de paz
Não vê que a sua vida aqui se encerra
Com uma nota curta nos jornais
Entendemos que não basta os órgãos de segurança prestarem um serviço para diminuir os índices de criminalidade se a população não se sentir segura. Não adiante nada o gestor da segurança tentar acalmar a população afirmando que os índices de criminalidade têm melhorado, ou defini-lo como “razoável”, enquanto corpos decapitados aparecem nas avenidas e o crime age soberano nos bairros. Afinal, a sensação de segurança das pessoas vai além de perceber a cidade tomada por viaturas policiais e homens fortemente armados. Aliás, isso pode levar até mesmo a mais sensação de insegurança. Ou seja, se tem muitos policiais é porque esse local é violento? Por isso o gestor público deve desenvolver soluções para essa questão pensando além de simplesmente ampliar e armar sua força de segurança.
Diante disso, cabe ao prefeito realizar ações simples, tais como: melhoria do espaço público, da limpeza urbana e da iluminação pública. Essas ações elevam a sensação de segurança dos moradores e os estimulam a desfrutar com mais frequência a cidade que vivem.
Em termos gerais, considera-se que os espaços urbanos bem planejados, desenhados e mantidos podem dissuadir comportamentos violentos por aumentarem o risco de sanção ou por induzirem condutas adequadas para sua conservação. Os espaços públicos ordenados promovem o que se denominou vigilância natural por parte da comunidade, o que gera maior segurança subjetiva, incrementa o uso do espaço por parte das pessoas e diminui as probabilidades de se cometerem delitos.
*Plauto de Lima
Coronel RR da PMCe, especialista em Segurança Cidadã e mestre em Planejamento de Políticas Públicas.