Com o título “Eram os deuses cientistas? Acorda, Brasiiiil!”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University). “É certo que muitos ouviram falar da IA Generativa, alguns até brincaram com ela, mas a grande maioria não entendeu bulhufas do verdadeiro impacto que essa tecnologia pode ter já em 2025”, expõe o articulista.
Confira:
No último sábado fui alfabetizado sobre a origem “big bang besca” do universo e do “milagre” do universo e da vida pelo meu superamigo cearense Cláudio Lenz, professor da UFRJ e notável físico brasileiro com artigos na Nature (revista científica mais citada no mundo). No segundo gole do Malbec, me convenci “estatisticamente” da existência de um deus. Era apostar nesta probabilidade ou, algo aparentemente mais fácil, atravessar intacto a parede à frente com meus átomos vazios, tentativa desistida no terceiro gole, por insistência do Cláudio … rsrs.
Chegando minha vez de fala, lembrei a este meu extraordinário ex-aluno da Escola Tecnica, com trabalhos no CERN dignos de um Nobel (aguardem !!!), que após 4 bilhões de anos de vida orgânica teremos, em breve, agentes inorgânicos, uma forma de vida anunciada por Nils Barricelli (Matemático Norueguês), Von Neumann (o homem mais inteligente do século XX, arquitetura de nossos computadores atuais) e Isaac Asimov no conto “A Última Pergunta”, em 1956. Tendo como foco no conto o futuro da humanidade, o destino do universo e a inevitabilidade da entropia, tendência natural de desordem e decadência no cosmos, Assimov menciona a evolução da inteligência e da consciência em formas não-orgânicas, especialmente na figura de computadores avançados, refletindo sobre temas filosóficos como a imortalidade, o ciclo de vida do universo e a busca por respostas definitivas sobre a existência.
Em seu livro “Eram os Deuses Astronautas?”, Erich von Däniken em 1968 explora a ideia de que civilizações extraterrestres visitaram a Terra no passado e influenciaram o desenvolvimento da humanidade. Será que foi mesmo? Hummm…. Nas obras de Assimov e de Däniken, a questão que se coloca é como a inteligência avançada, seja ela orgânica ou inorgânica, poderia ter um papel transformador no destino de uma civilização (eles não consideraram nossos “competentes e bem intencionados” políticos … rsrsr).
Eram os deuses cientistas? … rsrsr. Aterrissando no tempo de Yuval Harari, best seller que acaba de lançar o Nexus (“Uma breve história das redes de informação, da Idade da Pedra à inteligência artificial (IA)”), engana-se, segundo ele, quem acredita que a ameaça da humanidade pela máquina doidona e inteligente está na capacidade dela um dia ter consciência ou sentimentos. Humm… Mais perigoso, diz Harari, do que estas duas qualidades humanas, e que a máquina pode muito bem simular, é a poderosa ferramental que nos distingue sapiens, localizada no hemisfério esquerdo do córtex cerebral: a compreensão da linguagem.
Então entra aí em cena a IA Generativa (sim, essa mesma do ChatGPT e afins), que muitos iluminados consideram apenas mais um degrau na escadinha tecnologística da IA. Uma falta de maior leitura por parte dos “especialistas de plantão” acaba gerando um festival de desserviços à sociedade, do tipo: “A Inteligência Artificial não vai substituir pessoas, só vai exigir uma rápida adaptação, igualzinho às tecnologias anteriores”. Ah, é claro! Só um pequeno ajuste, parecido como trocar a máquina de escrever por um computador … com o carro em movimento indo pra Guaramiranga … rsrsr.
É certo que muitos ouviram falar da IA Generativa, alguns até brincaram com ela, mas a grande maioria não entendeu bulhufas do verdadeiro impacto que essa tecnologia pode ter já em 2025. O que temos aqui, na verdade, é uma revolução tecno-cognitiva que, pela primeira vez, coloca a IA nas mãos do até então “reles” cidadão, aquele esquecido da periferia que “perde o valor” depois que vota.
Segundo o Fórum Econômico Mundial em 2023, sobre o futuro de 100 profissões em 2027: 39% dessas profissões não precisarão de treinamento, mas 61% serão diretamente afetadas. Profissões que vivem desde “conversinha fiada” ao lidar com dados de terceiros (como os call centers), ou que dependem de certos conhecimentos especializados (alguns advogados, psicólogos, jornalistas, clínicos, professores etc.) estão, lamento dizer (mas é bom avisar), com os dias contados.
No final de 2023, o governo do Reino Unido, num gesto de generosa obrigação política, pediu que seus cidadãos “refletissem sobre o futuro” com base em duas listas: uma com as profissões vulneráveis à IA em geral e outra com as afetadas especificamente pela IA Generativa (sim, essa do ChatGPT). BORA imitar ?!
Qual o perigo perigoso nessa “2001 Odisseia do espaço” (Arthur Clarke & Stanley Kubrick, 1968) repaginada em 2024? Que os líderes, governantes atuais e outros responsáveis por gerir a sociedade também caiam na armadilha de relativizar o que os mais antenados já batizaram de “tsunami social e econômico iminente” a ser produzido pela IA. Lamentável que nossas universidades continuem passivas, como se nada estivesse acontecendo, oferecendo mais do mesmo na formação de jovens que, um dia, terão de liderar e governar a gloriosa Terra Brasilis.
Deitado em berço esplêndido? Acorda Brasiiiil!
*Mauro Oliveira
Professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University).
Ver comentários (1)
Excelente, professor!
Concordo plenamente com o seu alerta!
Fraterno abraço.