Com o título “Black friday…”, eis artigo de Mário Mamede, ex-deputado estadual e médico. Ele bate duro nessa história de descontos astronômicos que levam o consumidor a acreditar que o superfaturamento povoa tal ambiente.
Confira:
As remarcações não me entusiasmam. Melhor dizendo, não gosto de remarcações, sejam apelidadas de OFF, SALE( para ficar bem atualizado com a invasão das palavras e expressões inglesas no nosso linguajar ) ou qualquer outro nome.
Quando vejo uma loja fazendo uma promoção de 50 % me invade a certeza de que, comprando fora da SALE , o produto foi superfaturado em mais de 50%, pois no capitalismo ninguém vende , seja lá o que for, deixando de lucrar e muito bem. Na verdade, vendem mais com um superfaturamento de mais de 50%. Como não gosto de ser feito de bobo, nunca compro em promoções, quase sempre anunciadas com muito alarde.
Nos últimos anos temos assistido e convivido com as blacks fridays que nos invadem pelas tvs em repetidas e chatas propagandas, pelas ondas do rádio, em anúncios luminosos e multicoloridos nos principais cruzamentos, nos bairros em que habitam e circulam as pessoas com mais elevado poder aquisitivo , nesta cidade socialmente desigual.
As vitrines atraem compradores para produtos com OFF de até 70%, o que me faz obrigatoriamente deduzir que afora esse período promocional , chegaram a cobrar dos cliente com 70% de superfaturamento.
Para ninguém ficar fora da festa, para os consumidores populares, facilitam o pagamento o em 6, 10, 12 ou mais prestações mensais, contanto que comprem o produto. Afinal, o desejo de consumir numa sociedade capitalista não é uma pulsão apenas dos que são ricos. Os proletários também têm sonhos e querem consumir.
Mas, causou-me enorme estranheza que as farmácias tenha se incorporado à Black friday e oferecido medicamentos com descontos significativos, reforçando em mim a visão de que a saúde passa a ser tratada, cada vez mais, como uma mercadoria. Mais uma vez, me vem a certeza de que muitos medicamentos são vendidos com superfaturamento. Passo a entender o porquê de uma farmácia, em cada esquina, no bairros ditos nobres de Fortaleza. Com certeza as farmácias são empresas bem lucrativas.
Nas minhas observações e vivências na semana de tantas promoções fiquei surpreso ao ouvir da atenciosa senhora que me atendeu na clínica oftalmológica onde fui fazer exame médico para renovação da CNH, que eu iria pagar com 30% de abatimento, pois a clínica tinha aderido à Black friday. Passado o instante da surpresa, fiquei a pensar – então esse exame , fora esta semana , poderia ser 30% mais barato para os usuários.
Para mais um impacto nesse desprotegido consumidor, recebo de um serviço médico a oferta de 40% de vacina para Herpes Zoster (bastante cara ) e outras vacinas mais. Minha ingenuidade é ferida por acreditar até então que a missão dessas empresas de vacinação tinha como objetivo primordial oferecer um serviço de proteção à saúde de elevada importância, mesmo garantindo uma lucratividade e fazendo a cobrança por um preço justo. Agora sou levado a compreender que o objetivo principal de seus proprietários e sócios é garantir elevadas margens de lucro.
Reflito sobre as medidas do governo para equilibrar as metas fiscais estabelecendo, dentre outras medidas, a cobrança de 10% de imposto de renda para aqueles que tem renda acima de 5O mil reais. Gritaria geral, mercado estremece, nervos dos investidores em pandarecos, dólar vai para 6 reais e por aí vai…
Imaginem se houvesse uma auditoria nas empresas que oferecem elevados descontos na black friday.
Na verdade, o que tem gerado tanta reação do nervoso mercado é a política de combate à sonegação fiscal que se coloca como fundante na reforma tributária proposta pelo ministro Fernando Hadad.
*Mario Mamede
Médico e cidadão de Fortaleza preocupado com a enorme desigualdade social em nossa cidade.