Com o título “Como manter uma relação amorosa”, eis artigo de Zenilce Bruno, psicóloga e sexóloga. Ela aborda temas do sentimento.
Confira:
Outro dia, preparando uma palestra resolvi rever o filme “Um Divã para Dois”, que trata das fantasias femininas, colocando Meryl Streep no papel da mulher de desejo reprimido. O filme retrata um casal de terceira idade que, depois de 30 anos de casados não parece ter mais interesses em comum, quando a esposa que se sente sozinha, decide que se consultarão com um terapeuta de casais mesmo a contragosto do marido.
O filme funciona antes de tudo como uma teleaula, com o personagem do terapeuta fazendo algumas perguntas incômodas ao casal que, por extensão, os espectadores também fazem a si mesmos, sobre hábitos na cama e outras intimidades a dois que o tempo transforma em inércia.
Todas as necessidades concentram-se na mais intensa e imediata delas: o sexo. Obviamente, não se trata apenas disso, mas é este elemento que se apresenta como porta-voz de todos os anseios daquele casal. Porém, não é fácil conseguir isso de seu parceiro conjugal de décadas. Não pela falta de vontade, mas por todo o constrangimento que esse tipo de necessidade, naquele contexto e idade específicos, gera.
Com um elenco carismático representando um drama comum à vida de muitos, independentemente da idade, por meio de uma proposta simples que tenta reaver o que há de essencial em qualquer relação amorosa. Em minha opinião, esse filme constitui-se como alerta aos casais.
Sabemos que este sentimento de solidão fica intolerável quando o outro não nos alcança, não quer, não pode ouvir, ou não entende o que queremos dizer, seja de dor ou de alegria, ou quando nós mesmos não sabemos fazer isso, não sabemos escutar-nos, acolher-nos, considerar-nos. Somos uma cultura sem esse exercício de partilha e escuta.
Não pretendo aqui fazer o papel de crítica de cinema, mas como terapeuta de casais, não poderia deixar passar uma oportunidade tão rica de questionar aos leitores sobre suas vidas amorosas. Escrevo sobre o amor, sexo, relacionamento e recebo muitas perguntas de como manter o casamento, o namoro, o ficar. O que é preciso para um relacionamento manter-se vivo?
O filme passa 100 minutos tentando encontrar a resposta para uma pergunta tão complexa. Afinal, nem sempre um relacionamento longo é sinônimo de um bom relacionamento. Ser feliz é uma arte. Ser feliz sexualmente é uma arte a dois, que tem origem no encontro das pessoas, não apenas dos corpos. A dimensão feminina que está tanto no homem como na mulher, aprecia muito o sexual vivido com sentido e afeto.
Um Divã para Dois tem construções verdadeiras, em embaraços reais de personagens que aprendemos a gostar. As cenas da fantasia sexual são muito bem construídas. O embaraço de ambos é totalmente comum. A forma como Meryl Streep se encolhe e se desnuda de vaidades, ao mesmo tempo em que Tommy Lee Jones está visivelmente desconfortável e quase não acredita quando a esposa diz não ter fantasias, é tocante.
Tudo é construído de uma maneira muito honesta, desnudando não apenas os personagens, mas muitos casais que atendemos em nossos consultórios ou convivemos socialmente. Os dois atores constroem isso com muita verdade, por isso, a identificação acaba tão forte. Torcemos para que eles possam provar que é possível continuar e encontrar a intimidade de uma relação plena.
Para que o amor não seja apenas eterno enquanto dure, mas que possa existir mesmo felizes para sempre, nem que para isso seja mesmo necessária à ajuda de um especialista. Recomendo este filme, que apesar de ser de 2012, continua atual em suas questões sobre relacionamento e o ostracismo de um casamento.
*Zenilce Burno,
Psicólogqa e sexóloga.