Com o título “Henry Kissinger”, eis artigo de EmmanuelFurtado, professor titular da UFC e desembargador do Trabalho do TRT-7ª Região. Confira aabordagem dele sobre o diplomata dos EUA que marcou a história do mundo.
O título do artigo dispensa advérbios e qualificativos, por se tratar do diplomata de maior relevo do século XX. Nascido em Fürt, na Alemanha, de descendência judia, o recém falecido
(29.11.23) secretário de estado conseguiu superar sua origem e se tornar cidadão americano, algo nada fácil, pela propagação do antissemitismo mundo afora. Graduou-se, tornou-se
mestre e doutor pela Universidade de Harvard, tendo deixado vasta produção acadêmica, mas há quem diga que sua produção teórica teve menos impacto que a prática. Conseguia transitar
por entre os partidos e países, tendo sido secretário tanto de republicanos quanto de democratas.
Catalisou a aproximação, na década de 70, entre os E.U.A. e a China, o que deixou muitos americanos perplexos pelo fato de o país ir se envolver com vermelhos comunistas, mas o
pragmatismo diplomático de Kissinger via na frente e o diálogo entre as duas nações se efetivou. Ao tempo da Guerra Fria, há quem atribua a Henry o mérito de haver evitado uma 3a Guerra Mundial, daí ter recebido o Nobel da Paz da Academia de Estocolmo, sendo uma das premiações mais controversas já ofertada a alguém em toda a trajetória do Prêmio Nobel. Foi excelente diplomata a bem de quem? Não diria da paz mundial, mas estritamente dos interesses dos Estados Unidos. Tanto é que suas intervenções prolongaram a guerra no Camboja, com muitas vidas perdidas. Quando propôs o fim da guerra do Vietnã, milhares já haviam sucumbido, numa das mais vergonhosas derrotas para seu país. O chanceler Celso Amorim lembra bem que ditaduras na América Latina, como no Chile e na Argentina, tiveram o pálio de Kissinger, que chegou a intervir na política brasileira a ponto de o governo do General Geisel autorizar o assassinato de “subversivos” e “comunistas” no Brasil, pois, na visão de Kissinger, o país teria a missão de ser o guardião do liberalismo no continente abaixo do Equador.
Quantos morreriam numa 3a Guerra Mundial e quantos morreram nos prolongamentos das guerras do Camboja, Vietnã e nas ditaduras da América do Sul e de outros cantões em que
Kissinger interveio? Essa contabilidade ele há de estar aferindo no purgatório, ou no inferno, não me cabendo senão concordar que Henry Kissinger, além de ter sido o mais expressivo
secretário de estado do século XX, foi uma das figuras mais controversas da História da Diplomacia Mundial.
*Emmanuel Furtado,
Desembargador do Trabalho do TRT-7ª Região.
(Reproduzido do O POVO e repassado ao Blogdoeliomar pelo autor)