“Soberania Digital sem química… nem lero lero” – Por Mauro Oliveira

Mauro Oliveira é PhD em Informática por Sorbonne. Foto: Arquivo Pessoal

Com o titulo “Soberania Digital sem química… nem lero lero”, eis artigo de Mauro Oliveira, PhD em Informática (Sorbonne University), mestre em Engenharia Elétrica (PUC-Rio) e ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

Mauro Oliveira – Autor de “Soberania Digital, Colonização e Letramento”

(Dedicado ao amigo Raimundo Costa Filho)

O livro _Soberania Digital – Colonização e Letramento, lançado no CAIS (Ciência, Arte, Inovação e Sustentabilidade), chega como um grito de alerta no mesmo FDS em que a Praia de Iracema protestava contra a bandidagem travestida de PEC.

O maior alerta: a colonização silenciosa das big techs, que nos abduzem — nós, colonizados do Sul Global (ou seria o “Sul Maravilha”?) — e nos treinam como usuários contumazes de suas mazelas digitais. Nossa ausência na construção da IA Geral (aquela da cognição igual ao humano) e da computação quântica (aquela que aposenta o digital) é um quadro singelo de um cachorro com dor de dente caindo de um caminho de mudança. Ah! Se ao menos nossos líderes percebessem a armadilha para a qual seguimos de olhos vendados.

Como cobrar lucidez de um Congresso considerado o pior da história (vide a “PEC da bandidagem”)? Seguimos entregues a políticos com déficit crônico de sinapses no kengo, incapazes de fazer dois neurônios conversarem para além do fisiologismo barato.

Se até a universidade brasileira insiste em permanecer encastelada em sua zona de conforto, que horizonte nos sobra?

O livro Soberania Digital escancara essa letargia acadêmica diante de óbvios ululantes como a Singularidade — o encontro explosivo entre IA Geral e computação quântica — que já bate à porta, talvez em 2030 … ou antes como preconiza o IA 2027, relatório um grupo de pesquisadores ligados ao AI Futures Projec. Bom, Bib, Bem, Bummm … seja em 2027 ou em 2030, como avisa a canção, “nada será como antes”.

Outro ponto que o livro cutuca sem anestesia é o entusiasmo do colonizado, aquele que aplaude a parafernália digital enfiada goela abaixo from big techs: datacenters que nos vampirizam, aplicativos que nos doutrinam, dados sugados sem pudor.

Parece a mesma alienação cultural que permite, por exemplo, que uma empresa alemã tente rebatizar o Aeroporto Pinto Martins (alguém imagina isso acontecendo no Recife ou na Bahia?) — e ainda nos humilha com uma cancela bizarra de 10 min para embarcar/ desembarcar alguém, … a única no mundo “Sul Global Maravilha Colonizado”.

Esse papo de Soberania Nacional fez-se, na verdade, de um “presente troiano” embrulhado pelo “Sem Noção do Ano” (autocandidato ao Nobel da P… iada) e entregue de bandeja ao presidente brasileiro, que soube aproveitar a deixa para recolocar a Soberania Digital no centro do debate.

Enquanto seguimos dando milho aos falcões big techianos, nossa soberania digital se esfarela em migalhas. A ampulheta corre, e o tempo se estreita. Estamos à beira de ser tragados não só pela colonização digital (essa ainda tem prazo de validade), mas por uma colonização quântica irreversível, que nos empurrará de volta à Caverna de Platão sem sequer nos conceder correntes para tentar escapar.

Urge reagir. Precisamos de políticas públicas que deixem de lado a retórica e assumam o essencial: letramento digital massivo nas escolas, transversalidade da TIC em todos os processos e um debate para ontem sobre o mundo novo que já está instalado diante de nós.

Muito cuidado, porém, com essas “químicas de 39 segundos”: têm prazo de validade menor que promessa de campanha. Soam iguais às das big techs — só reagem de um lado, sempre o delas. É a química do sorriso protocolar, da foto para inglês ver, da promessa que evapora antes mesmo de virar molécula… e da arrogância de atacar o PIX só porque o colonizado ousou deixar de engordar a conta da Visa, Mastercard e o escambau de plástico.

Não precisamos de química de ocasião, mas de explosão controlada que arranque as universidades do seu berço esplêndido e arraste junto políticas públicas construídas com o povo nas ruas — naquela energia que faz político tremer na base, porque é a única reação química que eles realmente temem.

Sem essa química transformadora, nossa soberania não passa de experimento fracassado de feira de ciências: espuma de sabão, fumaça colorida e aplauso de plateia ingênua. Ao primeiro contato com interesses externos, puff — evapora. E seguimos no lero lero, com político vendendo placebo e big tech gargalhando da cara do colonizado entusiasmado.

É hora de reação em cadeia — reação política, social, cultural e científica — para que o Brasil deixe de ser reagente passivo e assuma o papel de catalisador do seu próprio futuro.

*Mauro Oliveira

PhD em Informática (Sorbonne University), mestre em Enga Elétrica (PUC-Rio) e ex-secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

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