“Evasão escolar e o direito à Educação” – Por Bianca Bessa de Aguiar

Bianca Aguiar, universitária. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Evasão escolar e o direito à Educação”, eis artigo de Bianca Bessa de Aguiar, universitária. “Diante desse cenário, iniciativas como o programa Busca Ativa Escolar, desenvolvido pelo UNICEF e pela Undime, têm se mostrado fundamentais. Entre 2017 e 2025, mais de 600 mil casos de crianças e adolescentes fora da escola ou em risco de evasão foram identificados, e cerca de 300 mil foram efetivamente rematriculados”, expõe a articulista

Confira:

A evasão escolar permanece como uma das mais graves feridas abertas no sistema educacional brasileiro. Apesar dos avanços legislativos e das políticas públicas voltadas à universalização do
ensino, milhões de crianças e adolescentes ainda abandonam a escola antes de concluir a educação básica. O direito à educação, garantido pela Constituição Federal e reforçado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, segue sendo negado na prática a uma parcela significativa da população.

Segundo dados recentes do IBGE e análises publicadas pelo UNICEF e Educamais Brasil, o Brasil ainda enfrenta índices alarmantes de evasão escolar. Em 2023, mais de 9 milhões de jovens entre 18 e 24 anos abandonaram os estudos antes de concluir a educação básica. Em 2024, cerca de 8,7 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não haviam completado o ensino médio. A evasão é mais acentuada entre adolescentes de 16 a 18 anos, chegando a quase 20% nessa faixa etária. No ensino médio urbano, a taxa de evasão é de 5,9%, enquanto em contextos especiais chega a 6,2%. Em 2025, ainda há 993 mil crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola, faixa etária em que a educação é obrigatória.

A evasão escolar é um fenômeno multifatorial, que envolve questões econômicas, sociais, culturais e estruturais. Entre os principais motivos apontados estão a necessidade de trabalhar, que afeta 42% dos jovens entre 14 e 29 anos; a falta de interesse ou engajamento, relatada por cerca de 25% dos estudantes; responsabilidades domésticas e gravidez precoce, especialmente entre meninas de baixa renda; repetência e atraso escolar, com apenas 59% das crianças concluindo o 9o ano no tempo esperado; e os impactos da pandemia de Covid-19, que afastaram muitos alunos da escola devido à falta de acesso à internet, estrutura e apoio durante o ensino remoto.

As consequências da evasão escolar são devastadoras. Jovens sem ensino médio enfrentam maiores dificuldades para conseguir empregos de qualidade, o que perpetua ciclos de pobreza e
marginalização. Estima-se que o Brasil perca cerca de R$ 200 bilhões por ano com a baixa escolarização da população. A evasão também reforça desigualdades raciais e territoriais, atingindo com mais intensidade negros, indígenas e moradores de áreas remotas. Além disso, o abandono escolar pode gerar impactos na saúde mental, como sentimentos de fracasso, ansiedade e comportamentos de risco.

Diante desse cenário, iniciativas como o programa Busca Ativa Escolar, desenvolvido pelo UNICEF e pela Undime, têm se mostrado fundamentais. Entre 2017 e 2025, mais de 600 mil casos de crianças e adolescentes fora da escola ou em risco de evasão foram identificados, e cerca de 300 mil foram efetivamente rematriculados. A estratégia promove uma atuação intersetorial, envolvendo saúde, educação e assistência social, e já conta com a adesão de mais de 2 mil municípios e 21 estados brasileiros.

A evasão escolar não é apenas um problema educacional — é um reflexo das desigualdades estruturais do país. Enfrentá-la exige políticas públicas eficazes, investimento contínuo, valorização dos
profissionais da educação e envolvimento comunitário. A escola precisa ser um espaço de acolhimento, pertencimento e oportunidade. Garantir o direito à educação é garantir o direito ao futuro.

*Bianca Bessa de Aguiar

Universitária.

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