“Quem tem Medo dos editais?” – Por Mirelle Costa

Wilson Júnior, escritor e professor de escrita, eu e o escritor Well Morais. Na ocasião, estava emocionadíssima ao lembrar minha trajetória em minha primeira bienal com esses dois amigos que tanto me abriram caminhos

“Graças a um edital, em breve, muito breve, terei o Cafezim com Literatura, um podcast que vai reunir escritores, leitores, editoras, clubes de leitura, representantes do poder público, designers e quem mais se sentir representado pela literatura para bater um papo sobre leitura e escrita”, aponta a jornalista e escritora Mirelle Costa

Confira:

O edital não é um lobo mal e eu posso provar. Eu nunca havia participado de editais de cultura simplesmente porque acreditava que dificilmente quem não tinha experiência conseguiria êxito. Porém, em 2023, a Secult Ceará lançou um edital de chamada pública para aquisição de acervo literário, traduzindo: caso eu fosse selecionada, meu livro de crônicas “Não Preciso Ser Fake” seria distribuído em quase novecentas bibliotecas das escolas públicas do Ceará. Não precisei nem ler o restante do edital (o que já foi o primeiro erro), mas já fiquei ansiosa por participar. No outro dia, mais calma, me concentrei e vi que era possível eu concorrer da mesma forma que os mais experientes. Em paralelo, a Secultfor também havia lançado um edital que contemplava a categoria literatura e eu passei a maratonar todas as lives que a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado oferecem quando um edital é lançado para ajudar os iniciantes. É claro que eu ouvi desincentivos do tipo: “Ah, é muito difícil você ser selecionada se nunca ganhou”. Eu não tinha sido selecionada porque também nunca havia concorrido, ora mais. E outra, quem passou de terceira vez no vestibular, não tem medo de tentar quantas vezes for necessário, mas isso nem precisou. Fui aprovada nos dois editais e nem eu acreditei quando o resultado saiu. Senti-me aquela menina de 2005 vendo seu nome no site da UFC para o curso de comunicação social com habilitação em jornalismo.

À medida em que conversava com as pessoas que nunca se inscreveram ou que ainda não tinham sido selecionadas, percebi que alguns pensamentos (ao meu ver, preocupante) se repetiam, como: “Ahn eu tenho tanta preguiça de ler o edital” ou então “Ahn, é muito complicado, não tenho paciência”.

Confesso que fazer parte de um processo seletivo tido pra muitos como difícil mexeu com minha autoestima, ainda mais porque, repito, não havia concorrido até então. Também procurei ajuda de um colega mais experiente que eu nessa área e fiquei muito feliz quando ele fez questão de atribuir o mérito a mim e eu o agradeço por toda orientação como também pela presteza, tanto que pedi a ele, Wilson Júnior, para vir aqui falar também: “Comecei a me inscrever em editais em 2019 e eu também fui ajudado, à época, afinal, sair do zero sozinho é muito difícil. Nesse contexto, quem me ajudou foi o Talles Azigon, uma figura importante na cena literária brasileira. Depois que ele me ajudou, de forma voluntária, eu tive um projeto aprovado e, todos os anos, consigo aprovar, pelo menos, um projeto. Ao todo, de dez a doze projetos até em nível de Brasil, tem minha contribuição, ou então, são projetos em parceria direta comigo. Tenho orientado outras propostas e possuo um grupo aberto para quem quiser ter acesso a esse conteúdo. Não nego conhecimento porque ele nunca me foi negado. Eu acredito que os editais são mais

fáceis do que parecem. É muito difícil para os artistas se manterem em nosso país sem os editais de arte. Eu sempre oriento que o ponto de partida é o Mapa da Cultura, nessa plataforma você tem acesso aos editais disponíveis, como também todas as informações necessárias, então, é necessário entender o Mapa, inclusive acompanhar projetos que já foram aprovados, bem como as suas temáticas, isso dá um norte, então, por exemplo, projetos que se conectam com pautas sociais, com temáticas que contemplem a diversidade, inclusão, democracia, sustentabilidade, ou seja, o que gera um benefício para a sociedade e está alinhado com o interesse das políticas públicas tem mais chance de ser aprovado. Ler o edital pode parecer óbvio, mas muitos participantes (principalmente quando estão começando) não dão a devida atenção ao documento principal de seleção. Existe um grupo nacional em que há troca de experiências e informações entre os concorrentes. As bancas dos pareceristas são muito diversas, então, em um ano concorrido em que você não foi selecionado, você engole a mágoa, revê aquele projeto que não foi aprovado e submete novamente em uma edição seguinte, ou, de repente, faz ajustes e envia para um outro edital onde você perceba que o seu projeto também pode se enquadrar. Outra coisa que eu observo é a criação de vagas para concorrentes quilombolas, indígenas ou LGBT e que muitas vezes não são preenchidas em sua totalidade, apesar de que esse número vem aumentando ano a ano. Os editais são uma peça importante de fomento à arte. Eu torço para que haja um maior número de vagas, pois a verba para a literatura precisa ser ampliada. Na mais recente edição do Ceará das Artes, tivemos 470 inscritos, ou seja, tem muita gente escrevendo e buscando apoio, daí a importância do poder público. E cabe à nós nos organizarmos como classe artística e não brigarmos entre nós”, desabafa Wilson Júnior, escritor e professor.

Ser selecionada em um edital dá uma energia tão grande que a gente vicia em concorrer. Pensando assim, me inscrevi em mais dois no ano passado, mas só fui selecionada em um, sendo que um só já é muita coisa, pois a concorrência foi bem considerável.

Então, Senhoras e senhores, graças a um edital, em breve, muito breve, terei o Cafezim com Literatura, um podcast que vai reunir escritores, leitores, editoras, clubes de leitura, representantes do poder público, designers e quem mais se sentir representado pela literatura para bater um papo sobre leitura e escrita. O nome é Cafezim mesmo, do jeito que a gente consome, assim com carinho. Já estou pensando aqui em toda a identidade visual, nas pautas, nos convidados e já conto com a audiência de vocês.

Vamos juntos?!

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Uma resposta

  1. Penso que quem tem um trabalho pronto na arte literária e disposição, já está com um pé (ou a mão) dentro dos editais desta natureza. O apoio de quem elabora esse trabalho é imprescindível, ajuda a erguer os neófitos da escrita. Desejo que o Cafezim com Literatura seja um caminho para essas realizações. 🌳

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