Com o título “Uma morte trágica pela defesa da liberdade”, eis artigo de Djalma Pinto, advogado e escritor. Um texto para boas reflexões nestes tempos contemporâneos.
Confira:
Cícero, o mais notável orador de Roma, recomendou que seu filho lesse suas obras para tornar-se um cidadão digno e capaz de servir como referência para a sua geração e para a sua pátria. Pode até parecer surpreendente, mas suas lições ainda se mostram de grande importância para o mundo contemporâneo:
“A justiça é a mais admirável das virtudes; a primeira qualidade do homem de bem. O primeiro dever imposto à justiça é não fazer mal a ninguém, a menos que se tenha de rebater um insulto. O alicerce da justiça é a boa-fé, ou seja, a sinceridade nas palavras e a lealdade nas convenções.
“Atacar de maneira injusta seus semelhantes, por movimento de fúria ou por qualquer outra paixão, é como levar a mão à cara do próximo; não impedir uma injustiça, quando tal se pode fazer, é como abandonar seus pais, seus amigos, sua pátria. Uma injustiça premeditada é sempre obra do medo, decidindo-se assim pelo receio. Muitas injustiças são cometidas procurando-se o objeto de nossos anseios; poder-se-á afirmar que a ambição é o seu principal móvel. Os magistrados devem compenetrar-se da ideia de que representam a República e que lhes cabe sustentar a decência, manter as leis, distribuir justiça e ter presente tudo o mais do que são depositários. O dever dos simples particulares é respeitar, com os seus compatriotas, as leis da justiça e da igualdade, evitar a soberba e a baixeza, gostar de ver imperar no Estado a honestidade e a tranquilidade”.
Por combater a tirania, que se estabeleceu em Roma após a queda da República, Cícero foi preso, torturado e morto. Esse trágico fim, daquele que recebeu o título de “Pai da Pátria” por sua valiosa contribuição cívica, ficou assim imortalizado na História: “Com a imolação de Marco Túlio Cícero – perseguido pelos sicários de Marco Antônio – emudece para sempre a grande voz do patriotismo vigilante, silencia a pregação pugnaz e incorruptível da democracia. A cabeça e as mãos do orador, decepadas do tronco, foram conduzidas para Roma; e a língua transpassou-a com um grampo de seus cabelos, num requinte de feminil maldade, Fúlvia, a bela e vingativa esposa do triúnviro Marco Antônio.”
Como todo aquele que exerce o poder e suprime a liberdade de expressão para não ser criticado, Marco Antônio deu o exemplo que, séculos depois, foi seguido por Hitler e por outros que não desejam receber a contrapartida em vida pelos seus repugnantes delitos: suicidou-se.
Deixou, afinal, aquele grande cidadão romano esta advertência para todos os povos que sonham com a paz, a prosperidade, sem perder a liberdade:
“Quando se ingressa nos cargos públicos, nunca é demais apreciar a honestidade de seus fins; é preciso também atender aos meios, evitando o desencorajamento que produz a indolência e a arrogância que inspira a ambição. Enfim, em tudo, antes de explorar, é preciso preparar-se com cuidado.”
*Djalma Pinto
Advogado e autor de diversos livros, entre os quais, “Distorções do Poder”, “Marketing, Política e Sociedade”, “Distorções do Poder”,
“Cidade da Juventude” e “Direito Eleitoral, Anotações e Temas Polêmicos”.