“Sobre Osvaldo Euclides de Araújo” – Por Luís Sérgio Santos

Luís Sérgio Santos é professor de Jornalismo da UFC. Foto: Arquivo Pessoal

“O Osvaldo era o superintendente do jornal, tinha uma visão total da empresa, do negócio, mas era também, potencialmente, um jornalista — e isso estava no seu DNA, na sua história”, aponta o jornalista Luís Sérgio Santos

Confira:

Conheci Osvaldo Euclides de Araújo no jornal O Povo, por volta de 1992, 1993. Convivemos até 1995, quando parti para uma nova fase profissional. Osvaldo era o superintendente do jornal, o executivo principal, o braço direito do presidente Demócrito Dummar. Além de economista, era um verdadeiro malabarista, capaz de equacionar as questões conjunturais da empresa jornalística em um período nada favorável ao negócio. A convivência com o Osvaldo foi maravilhosa. Ele visitava a redação — não como regra, mas de vez em quando — e eram sempre visitas muito gostosas. Às vezes vinha sugerir alguma pauta; outras, apenas jogar conversa fora, falar sobre conjuntura, sobre seu principal objeto, a economia, e, secundariamente, política. Tenho boas memórias desse tempo.

Lembro bem da presença do jornalista Francisco Auto Filho, articulista semanal do jornal, com sua verve enfática, sempre crítico, contundente. Ambos eram muito amigos.

Naquela época, o prédio da Aguanambi, 282, abrigava a redação no segundo piso leste, no lado oeste, a direção e administração mais departamento comercial. No terceiro andar, funcionava o Departamento de Pesquisa, comandado pelo querido Miguel Ângelo Azevedo, o Nirez, com suas pastas meticulosamente catalogadas. O jornal era totalmente analógico. A tecnologia de ponta na redação era o telex, o teletipo e a telefoto.

Por volta de 1994, 1995, começou a transição para o digital, com três computadores na redação, sob o comando do Gutemberg Figueiredo. Mas os três computadores eram usados basicamente para elaborar gráficos e tabelas. Foi um momento muito interessante, de muitas trocas, de convivência rica e aprendizado diário.

Lembro de um episódio capitaneado pelo Osvaldo: ele chegou à redação, no meio da tarde, me procurou e disse:

— Você está sabendo que o Elio Gaspari vai estrear um artigo semanal no Estado de S. Paulo?

— Não, Osvaldo, não estou sabendo.

— Pois é. Acho que seria uma boa oportunidade de nós assinarmos esse artigo do Gaspari.

E assim o fizemos. Foi nesse período, 1994, 1995, que o Gaspari começou a publicar simultaneamente no O Povo o seu artigo do Estadão, que depois se expandiu para a Folha e outros jornais — por sugestão do Osvaldo Euclides de Araújo.

O Osvaldo era o superintendente do jornal, tinha uma visão total da empresa, do negócio, mas era também, potencialmente, um jornalista — e isso estava no seu DNA, na sua história.

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Osvaldo Euclides de Araújo (ao centro) nas reuniões semanais na Livraria Cultura.

Pena que, naquela época, eu — ainda jovem, nos meus 30, 35 anos — não tenha sabido usufruir mais do conhecimento do Osvaldo e também de sua ancestralidade, já que seu pai foi um dos homens da Gazeta de Notícias, com uma trajetória contundente no jornalismo.

Tive também o privilégio de conviver com o Osvaldo nas reuniões do Conselho Editorial do jornal O Povo — um espaço de debates e ideias que marcou época. O Conselho era presidido por Demócrito Dummar e secretariado por Osvaldo Euclides de Araújo, contando com presenças marcantes como Adísia Sá, Antônio Pádua Campos, Carlos d’Alge, Rachel de Queiroz, José Raymundo Costa, Valfrido Salmito, Paulo Bonavides e Paulo Elpídio de Menezes Neto. Eu participava como editor executivo.

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Era um Conselho riquíssimo, de ideias, de ponderações e, claro, de sugestões e diretrizes — como deve ser um bom Conselho Editorial. Um ambiente plural, vivo, que refletia a força intelectual e o compromisso ético que sempre pautaram o jornal.

Osvaldo era um intelectual, um economista intelectual, de sólida formação e com domínio total sobre o nosso vernáculo, sobre a nossa fortografia. Nos últimos anos, passou a editar o blog Segunda Opinião, do qual sou colaborador.

Tive também o prazer de editar, pela Omni Editora, alguns de seus livros — inclusive coletâneas organizadas por ele.

Era, antes de tudo, um idealista, e, acima de tudo, um grande produtor intelectual.

O Osvaldo nos deixa uma grande lacuna. Sinto-me pobre agora em adjetivos para qualificar sua perda.

Grande abraço, querido amigo.

Luís Sérgio Santos é jornalista e professor da UFC

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