“O relatório era a chance de reequilibrar o tabuleiro político. Acontece que Derrite fez tudo errado. Exibiu improviso, arrogância e desconhecimento técnico”, aponta o jornalista Luiz Henrique Campos
Confira:
A lambança protagonizada pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP/SP) na relatoria do projeto de segurança pública na Câmara dos Deputados abalou profundamente a pretensa expertise que a direita brasileira há anos tenta apregoar sobre o tema. Com idas e vindas constrangedoras, alterações improvisadas e demonstrações explícitas de despreparo, Derrite não apenas desfigurou o texto que deveria ser seu cartão de visitas, como deixou atônitos os próprios líderes que o escalaram para a função. Era para ser um movimento estratégico e simbólico. mas virou um desastre político.
A escolha de Derrite não foi casual. Em meio ao clima de exploração política sobre o recente amontoado de cadáveres produzidos no Rio de Janeiro, a direita julgava ter encontrado o momento ideal para assumir o protagonismo na agenda da segurança, área em que a esquerda, de fato, não tem logrado resultados capazes de sensibilizar a população. A aposta era simples. Aproveitar o ambiente emocional, apresentar relatório robusto e, com isso, consolidar discurso que serviria de base eleitoral para 2026, colocando como relator o atual secretário de segurança pública de São Paulo, estado vitrine do país.
Organizados e confiantes, setores da direita planejavam usar o documento como mote de campanha. E seria legítimo, sobretudo em cenário no qual Lula se movimenta com desenvoltura em outras frentes importantes, como a economia e a relação com o governo Trump. O relatório era a chance de reequilibrar o tabuleiro político. Acontece que Derrite fez tudo errado. Exibiu improviso, arrogância e desconhecimento técnico. Mostrou que, na prática, o discurso da direita sobre segurança se sustenta mais em bravatas do que em propostas estruturadas.
Quando pressionado, recorreu ao velho repertório, que é sempre celebrar o encarceramento em massa e justificar o número escandaloso de mortes cometidas por policiais como se fossem indicadores de eficiência. Hoje, o Brasil ostenta mais de 820 mil pessoas presas e quase 7 mil mortes decorrentes de intervenção policial por ano, números que escancaram o fracasso de um modelo que a direita insiste em chamar de solução. A lambança de Derrite, portanto, não é um episódio isolado. É o retrato de um projeto político que, quando precisa ir além do palanque e entregar resultados concretos, revela suas fragilidades. O protagonismo sonhado virou ruído. E a expertise tão anunciada, ao primeiro teste real, simplesmente derreteu.