Com o título “Impessoalidade”,eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. “A impessoalidade na política não existe, embora seja um princípio a ser seguido na administração pública. A luta é pelo poder, em benefício próprio, de familiares e amigos. Por que será?”, expõe a articulista.
Confira:
A política virou um grande negócio. Ou para ser precisa, sempre foi um bom negócio. Herdado de pai para filho. São raros os representantes que se elegem pensando em escutar as demandas da população, em melhorar a vida dos menos afortunados. A impessoalidade na política não existe, embora seja um princípio a ser seguido na administração pública. A luta é pelo poder, em benefício próprio, de familiares e amigos. Por que será? Porque a política virou emprego bem remunerado, cheio de regalias, negadas aos demais cidadãos, e de poder para
indicar aos elevados cargos da Nação, nomes retirados do colete dos mandatários de plantão.
Os eleitos fazem o loteamento da máquina pública com familiares, correligionários, e amigos, e só Deus sabe as estripulias que aprontam para fazer dinheiro do caixa dois das próximas eleições, para se perpetuarem no poder, e para elevação do patrimônio. Todo mundo sabe disso, as autoridades sabem desta relação promíscua dos políticos com a máquina estatal, mas o loteamento continua, o dinheiro público sendo gasto como se não tivesse dono.
Os ocupantes do andar de cima do país alardeiam aos quatro ventos que é preciso cortar gastos com a máquina estatal, reduzir cargos comissionados, despesas, no que estão corretos, mas erram ao eleger os servidores públicos como os vilões que impedem a empreitada. A receita desta elite caolha é o fim da estabilidade dos concursados. Diagnóstico totalmente equivocado. O que precisa estar na ordem do dia dos ditos preocupados com as finanças públicas do país é o fim do aparelhamento da máquina pública pelos políticos.
Os políticos são a razão dos desmandos, da farra com o dinheiro público, e precisam ficar longe da máquina, que deve ser tocada por profissionais de carreira. É isto que precisa ser enfrentado, posto em prática, sem postergação. Os órgãos são de estado e não de governo. Chega. O desequilíbrio das contas públicas reside na relação promiscua dos políticos com a máquina, que a transformam em cabide de emprego e produtores de rombos financeiros.
Esta indecência precisa acabar. Os políticos, de modo geral, são como raposas cuidandodo galinheiro, segundo o dito popular. Agora, o problema vai piorar. Os políticos querem aprovar a reforma administrativa, extinguindo a estabilidade de servidores públicos. Esta
estabilidade constitui um estorvo para os políticos mal intencionados, pois impede que eles loteiem, por completo, os órgãos com servidores indicados por eles, a cada eleição.
A estabilidade dos servidores públicos é uma garantia da presença dos olhos da população dentro das instituições, para denunciar os abusos cometidos pelos políticos e seus protegidos, propiciando uma maior impessoalidade e transparência. Quem se alinha com a proposta de extingui-la, está concorrendo para o aprofundamento dos desvios, abusos de poder, e corrupção na máquina estatal. A sociedade precisa levantar-se para exigir dos partidos políticos a manutenção da estabilidade, e o fim do loteamento da máquina pública.
*Fátima Vilanova
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), idealizadora da Ouvidoria da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e primeira ouvidora e autora do livro: “Está tudo errado…” (Disponível na Amazon)
Você pode me acompanhar no YouTube, no programa Democracia Radical, nos perfis: @fatimavilanova, @josemariaphilomeno
Uma resposta
Excelente texto. Um dos melhores dessa grande sociólogo que é a Fátima Villanova.
Infelizmente essa é a realidade do nosso país, tinhamos tudo para sermos uma grande nação mas não deixam, ou melhor, não deixamos pois quem os escolhe somos nós e cada povo tem o governo que merece.