“A juventude brasileira é particularmente vulnerável a esse tipo de dependência”, aponta a estudante universitária Bianca Bessa de Aguiar
Confira:
O avanço das plataformas de apostas online no Brasil tem gerado uma série de impactos sociais preocupantes. Com a popularização dos jogos de azar digitais, especialmente entre jovens e adultos das classes média e baixa, o vício em apostas — conhecido como ludopatia — tornou-se um fenômeno crescente que afeta não apenas a saúde mental dos indivíduos, mas também a estabilidade econômica e social de famílias e comunidades. Sob o aspecto econômico, o vício em apostas compromete seriamente o orçamento doméstico. Muitos apostadores acabam destinando parte significativa de sua renda mensal para jogos, negligenciando despesas essenciais como alimentação, moradia e educação. Esse comportamento pode levar ao endividamento crônico, à inadimplência e à perda de bens, criando um ciclo de instabilidade financeira que afeta não apenas o indivíduo, mas todo o núcleo familiar.
As consequências familiares são igualmente graves. O comportamento compulsivo associado ao vício em apostas frequentemente resulta em conflitos domésticos, separações conjugais e deterioração das relações interpessoais. A confiança entre os membros da família é abalada por mentiras, omissões e atitudes impulsivas, gerando um ambiente de tensão e insegurança emocional. Em muitos casos, o apostador se isola socialmente, agravando quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima. A juventude brasileira é particularmente vulnerável a esse tipo de dependência. A facilidade de acesso às plataformas digitais, aliada à ausência de mecanismos eficazes de controle e à intensa exposição a campanhas publicitárias, contribui para a iniciação precoce no mundo das apostas. Esse cenário compromete o desenvolvimento saudável dos jovens, interferindo em sua formação educacional, profissional e emocional.
Do ponto de vista da saúde pública, o vício em apostas é uma condição que exige atenção especializada. Trata-se de um transtorno comportamental que compartilha características com outras dependências, como o uso de substâncias psicoativas. O tratamento requer abordagem multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais, além de políticas públicas voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e reabilitação. No campo institucional, há esforços para regulamentar e mitigar os efeitos nocivos das apostas online. Propostas legislativas buscam restringir o uso de cartões de crédito nas plataformas, exigir campanhas educativas sobre os riscos do jogo e criar mecanismos de triagem para identificar usuários com comportamento compulsivo. No entanto, a eficácia dessas medidas depende de fiscalização rigorosa e da responsabilização das empresas operadoras, muitas das quais atuam em ambientes jurídicos pouco claros.
Em síntese, o vício em apostas no Brasil representa um desafio complexo que transcende a esfera individual. Suas consequências sociais exigem respostas coordenadas entre governo, sociedade civil e setor privado, com foco na proteção dos mais vulneráveis e na construção de uma cultura de responsabilidade e prevenção. Sem ações concretas e integradas, o país corre o risco de enfrentar uma crise silenciosa, marcada por sofrimento psicológico, desestruturação familiar e exclusão social.
Bianca Bessa de Aguiar é estudante universitária