“Na política, quem tem preço não tem valor” – Por Luiz Henrique Campos

Flávio Bolsonaro é senador e filho de Jair Bolsonaro. Foto: Agência Senado.

Com om título “Na política, quem tem preço não tem valor”, eis a coluna “Fora das 4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “Se hoje a realidade nos mostra que os que deveriam zelar pelo país transformaram a política em cambalacho, cabe ao eleitor usar os instrumentos que possui, que é o voto, para resistir”, expõe o colunista.

Confira:

Vivemos um tempo em que a representação política no Brasil parece transformar dignidade em mercadoria. Recentemente, a frase “quem tem preço não tem valor”, de autoria ignorada, ressurgiu com força no debate público, quando o senador Flávio Bolsonaro declarou que “teria preço”. Com isso, ele transferiu aos partidos do Centrão a tarefa de decidir se aceitariam sua chantagem. Poderia até ser uma audácia transformar mandatos em barganhas, se não tivéssemos vivendo uma quadra onde a representatividade do Congresso Nacional é uma das mais desqualificadas de nossa história. Mas não. Aceitar essa chantagem como natural acaba sendo entendida por alguns analístas, do mesmo nível dessa representação, como estratégia política.

O reflexo dessa negociação sombria escancarou-se na votação sobre a dosimetria da pena do preso Jair Bolsonaro, pai de Flávio, na Câmara dos Deputados. Deputados, que deveriam representar o povo com honra, colocaram-se em maus lençóis diante da repercussão adversa. A sutileza de “quem tem valor não tem preço” revela-se um escárnio quando se negocia impunidade como se fosse uma mercadoria qualquer. A partir daí, resta claro. Nem Flávio tem valor, e menos ainda aqueles que se submetem a ele, comprando seu silêncio ou sua cumplicidade.

Esse quadro revela o quão deturpada está nossa representatividade no Congresso. Palavras inflamadas, como “combate à corrupção”, “ética pública”, tornam-se mero arsenal retórico em meio a um vocabulário sem valor ou substância intelectual, pois no fundo, estão de fato, praticando atos de covardia moral. Eles exigem penas rígidas para uns, e indulgência para outros. Acusam e condenam com veemência alguns criminosos, enquanto negociam a impunidade para seus aliados ou parentes. É o caso de Carla Zambelli, agora presa; de Eduardo Bolsonaro, acusado, foragido, ou tramando contra o Brasil; de Ramagem, condenado e foragido. Crimes variados, com consequências diferentes dependendo da proximidade com o poder. Hipocrisia elevada à enésima potência.

Ao percebermos que tais figuras, que deveriam ser servidores públicos, vivem confortavelmente às custas dos impostos e da paciência popular, sentimos nojo. Uma verdadeira casa de malucos, bem remunerados por mim e por você, leitor. São deputados, senadores e demais políticos que fingem defender a “ética” e a “lei”, mas instrumentalizam o cargo para satisfações particulares. “Quem tem valor não tem preço.” Uma lição ignorada. Valor não se mede em cifrões ou favores. Valor se revela em coerência, em dignidade, em compromisso com a justiça, não em alianças subterrâneas, chantagens ou blindagem judicial. E mais. Esse valor não é concessão de quem detém poder; é algo que advém da sociedade, de cada cidadão que acredita, ainda que por instantes, em uma política decente. Se hoje a realidade nos mostra que os que deveriam zelar pelo país transformaram a política em cambalacho, cabe ao eleitor usar os instrumentos que possui, que é o voto, para resistir. Recusar a normalização dessa promiscuidade. Exigir com firmeza, pois mandatos não podem ter preço. Porque, de fato, quem tem valor não tem preço.

*Luiz Henrique Campos

Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”, do Blogdoeliomar.

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