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“O que aprendi com Pepo Melo”

Demétrio Andrade é jornalista e sociólogo

Com o título “O que aprendi com Pepo Melo”, eis artigo de Demétrio Andrade, jornalista e sociólogo, que presta uma homenagem ao jornalista Pepo Melo, que nos deixou neste começo de 2024.

Confira:

No início deste ano, tive a infeliz notícia da morte de Pelo Melo, colega desde a época do curso de Comunicação Social da UFC. Entramos juntos, em 1988. A experiência da faculdade foi uma verdadeira revolução na minha vida. Afinal, foram seis anos de Colégio Militar e mais um no Colégio Naval. O terceiro ano, no já não existente Colégio Geo Studio, havia aguçado minha sensibilidade. Desta forma, quando servido, o jornalismo foi um prato cheio e delicioso.

O ambiente repleto de debates políticos, culturais, musicais, o sentimento de finalmente aprender coisas que eu sempre quis ler e estudar. Indescritível. Evidentemente, tudo acompanhado da boa boemia etílica e conteúdos afins. O Pepo, com seu jeitão “não quero nem saber se o céu é azul mas se sobrar tinta eu tô dentro” combinava perfeitamente com o cenário. Intabulamos rapidamente saídas, resenhas e papos sem fim sempre “molhando a palavra”, nos aproveitando da cerveja com preço congelado pelo glorioso Sarney. Nessa de “não é meu, não é teu” fomos até num Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação, o famoso Enecom, em Vitória, de saudosa memória e episódios impublicáveis.

Numa dessas bebedeiras, debatendo política a partir dos conflitos eternos do movimento estudantil entre a galera do PT e do falecido Partido da Libertação Proletária (PLP), comecei a falar mal dos adversários até o momento que o Pepo me olhou e disse: “cara, você tem muita raiva dessa galera, né?”. Naquele momento, no alto da minha imaturidade mal barbada de 19 anos, ele, com sua leveza, me ensinou uma das minhas primeiras lições políticas: adversários não são inimigos. Procuro trazer isso como mantra até hoje. Pouco antes de me formar, comecei a encarrilhar uma série de atividades profissionais e acumular empregos. A gente meio que se perdeu no caos das atividades. Meu modelo de vida acabou exigindo de mim muita responsabilidade, disciplina e tempo para o trabalho. Quando em vez, sinto falta daquele clima jovem e despreocupado e, claro, de seus personagens, como Pepo e sua figura ímpar: tamanco, cabelo desgrenhado, cigarro no canto da boca.

Final de novembro fui tocar no BNB Clube com o Academia e nos reencontramos e compartilhamos uma boa hora de conversa. Quando soube de sua passagem, pela Adriana Saboya, amiga comum de turma, mandei mensagem pro Maurição, gestor do BNB, agradecido por ele nos ter proporcionado o último encontro. Ele mandou “Canto para minha morte”, do Raulzito, pelo WhatsApp, que rapidamente misturou-se a “Logical Song”, do Supertramp, ecoando e me punindo entre os zumbidos de cobrança guardados na cabeça.

Ainda tô por aqui, Pepo. Tentando, a duras penas, aprender a encarar a vida com sua leveza. Até um dia!

*Demétrio Andrade

Jornalista e sociólogo.

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