“Aqui está a essência da Teologia cristã, a ressurreição. A Teologia da Cruz apresenta um sentido dialético, porque só pode haver ressurreição se houver morte”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves. Confira:
O Deus clemente e misericordioso, sobrando-lhe sabedoria e meios para resgatar a humanidade de forma miraculosa, escolheu humanizar-se, nasceu do ventre de uma mulher como qualquer um de nós, aceitou ser humilhado, martirizado, morrer pregado numa cruz como um criminoso sendo totalmente inocente. Tudo para resgatar a humanidade da escuridão do pecado. Todavia, eis que venceu a morte e ao terceiro dia depois de ter sido sepultado, Ele ressuscitou. Aqui está a essência da Teologia cristã, a ressurreição. A Teologia da Cruz apresenta um sentido dialético, porque só pode haver ressurreição se houver morte. No entanto, o grande dia da certeza de Vida Eterna para os que creem em Cristo é este domingo memorial, quando lembramos o sepulcro vazio porque Ele ressuscitou. A narrativa que está em João é motivo de júbilo para todo cristão: “E no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram. Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro. E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia não entrou. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis, E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.” (20. 1-9).
Interessante notar a presença das mulheres na vida de Jesus, o Messias de Deus, o Filho de Deus, Deus encarnado. Nascido de mulher, o Seu ministério público recebeu apoio logístico das mulheres que o acompanhavam, convertidas à Sua mensagem, como foi o caso de Maria Madalena, mulher de vida desregrada, da qual Jesus expulsara sete demônios, mas que abandonando os abismos de maldição que infelicitavam sua existência, dedicou-se totalmente ao Messias, purificada e renovada para a importante missão a que estava destinada depois da conversão.
A narrativa de João continua: “E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro. E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni, que quer dizer: Mestre. Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto. Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.” (20.11-19)
Deus escolheu, portanto, a mulher de Magdala, discípula amada, para testemunhar a ressurreição de Jesus e com ele entabular o primeiro diálogo depois do extraordinário evento. Essa graça não foi dada a João, o discípulo amado; nem a Pedro, aquele a quem Jesus entregara a liderança do que viria a ser a Igreja; nem à própria mãe do Salvador. São os caminhos misteriosos dos desígnios de Deus, tão incompreensíveis para os que não crêem. Maria Madalena viu e apressou-se a avisar aos demais discípulos que andavam amedrontados, escondidos em vários locais de Jerusalém, a mais importante notícia de todos os tempos.
O teólogo Joseph Ratzinger (Bento XVI) cita o basilar texto do apóstolo Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, então é vã a nossa pregação e a nossa fé. E nós aparecemos ainda como falsas testemunhas de Deus, porque contra Deus afirmamos que Ele ressuscitou a Cristo.” (1 Cor. 15.14-15). E o grande sumo pontífice deste século complementa: “Com essas palavras, São Paulo põe drasticamente em relevo a importância que a fé na ressurreição de Cristo tem para a mensagem cristã no seu conjunto: é o seu fundamento. A fé cristã está de pé ou cai com a verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dos mortos.” Caso se suprima o evento da ressurreição de Cristo, observa Ratzinger, a fé cristã está morta, porque Jesus “é uma personalidade falida”, como qualquer outra própria de mitologias pagãs.
Tenhamos em mente, portanto, que na Semana Santa o dia mais importante não é a Sexta-feira da Paixão, segundo entendem muitos, mas o Domingo, Dies Domini, o Dia do Senhor, o dia em que pela ressurreição de Cristo alcançamos a possibilidade de também ressuscitarmos com Ele, desde que nos convertamos e nos arrependamos dos nossos pecados. Não há salvação sem conversão. Pregação diferente dessa exigência do Cristo, é anátema, já o disse o apóstolo Paulo. E o próprio Cristo admoestou a adúltera depois de evitar seu apedrejamento conforme a Lei de Moisés e de perdoá-la: – “Vais e não peques mais.” Não peques mais, esta a ordem de Jesus.
Barros Alves é jornalista e poeta