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“As fábricas de sparrings para lutas clandestinas em Fortaleza”

Nicolau Araújo é jornalista

“Após a sua aparição na academia, Bruno não mais foi visto. Talvez tenha ido mostrar seu estado como forma de alerta aos outros alunos”, aponta o jornalista Nicolau Araújo, em republicação do artigo, após o quadro de lutas clandestinas na periferia de Fortaleza não apresentar mudanças significativas. Confira:

Pouco após o início do treino, os alunos pararam as atividades, diante da chegada de Bruno. Aos 20 anos de idade, o único fita vermelha do grupo arrastava cabisbaixo a perna direita até confortá-la no extenso banco de madeira. O professor já havia alertado aos discípulos que Bruno não havia se saído bem no torneio do fim de semana. O que os alunos iriam ver depois era pior.

Bruno estava com o rosto desfigurado e com três dentes em falta: o incisivo lateral, o canino e o primeiro pré-molar. O protetor bucal, óbvio, passou longe de qualquer controle de qualidade. Assim como fajuto era o árbitro.

As lesões de Bruno revelam um crime em prática em academias da periferia de Fortaleza, que fabricam sparrings para que covardes de 32 anos se exibam nas redes sociais como pseudo-lutadores de muay thai, quando na verdade lhes falta coragem para enfrentar um octógono legalizado.

Bruno fora motivado a participar do torneio clandestino pelo próprio professor. O encorajamento veio por uma fita vermelha (kruang), após avaliação também do professor. Se chegasse à final da competição, a bolsa de 600 reais estaria garantida. O dinheiro combateria um adversário diário de Bruno: a fome.

Antes de conhecer o primeiro adversário, o fita vermelha assinou o que acreditou ser um contrato, o qual os organizadores (formação de quadrilha) se eximiam de qualquer dano ao jovem de 20 anos.

Em uma espécie de ringue, Bruno encontrou como adversário um homem de 32 anos, fita preta. Segundo a Confederação de Muay Thai do Brasil, um fita vermelha ainda é considerado iniciante, enquanto o fita preta, seis categorias acima, professor.

A disparidade de categoria, faixa de idade e estatura ficou evidente no tripudiar contra o jovem de 20 anos. A lesão no joelho direito e os hematomas nas costas e rosto de Bruno não foram suficientes para que o fajuto árbitro encerrasse a luta, pois ainda não havia sangue para que o covarde de 32 anos exibisse nas redes sociais.

Nem mesmo as duas joelhadas na boca do jovem de 20 anos, após agarrado pelos cabelos, quando então o sangue foi jorrado junto aos dentes, encerraram a luta. Rendido ao chão, Bruno ainda foi agredido por chutes e com quatro a cinco murros no rosto, quando o próprio lutador de 32 anos pôs fim ao suplício do jovem, após se convencer que era, de fato, macho… alfa. Final de combate, confirmado então pelo fajuto árbitro.

Após a sua aparição na academia, Bruno não mais foi visto. Talvez tenha ido mostrar seu estado como forma de alerta aos outros alunos.

Bruno não é o nome verdadeiro do jovem de 20 anos. A história, infelizmente, é real.

Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido

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