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“O Clã Alexandrino Enlutado”

José Maria Bonfim é médico e escritor

“Frei Hermínio nunca abandonou o navio de suas origens. Assim em 1958, na calamidade feroz, da seca, sua família partiu para Goiânia e depois na embrionária Brasília. Frei Hermínio ainda Afonso teve outro destino”, aponta o médico e escritor José Maria Bonfim. Confira:

A morte de Frei Hermínio Bezerra, OFM, no dia 22 do corrente mês, constitui um desfalque muito grande em nossas vidas. Não por ser para nos um troféu diante de sua auréola de sabedoria. De sua fidelidade monástica. De sua intangível obediência ao mundo seráfico. Crateús sempre foi a cidade referencial, para os citadinos que habitavam sob a umbra da cordilheira da Ibiapaba. Desde a região dos Inhamuns aos sertões de Crateús. O forte pendor religioso nos reuniu em torno do mesmo altar. Descosidos dos ditames conciliares, sempre celebramos o devocionário dos nossos Santos protetores. Quando a seca ensaiava seus lampejos, o sertanejo corria para ver a procissão das formigas. Ou se entretinha com a pedra de sal. Ou já desabando o ano esperava pela barra. Se barra não veio, como diz Patativa, e o sol nascente exageradamente vermelho, a seca está na soleira das nossas portas.  Nas pálidas sombras de um resto de Fe, que se vai no mês preferido do Santo querido Senhor São José.

Frei Hermínio nunca abandonou o navio de suas origens. Assim em 1958, na calamidade feroz, da seca, sua família partiu para Goiânia e depois na embrionária Brasília. Frei Hermínio ainda Afonso teve outro destino. Nesta forquilha do destino todos foram abençoados. De fato é uma Légua Tirana. Título do seu último livro. Título celebrativo dos seus 50 anos de ordenado. Uma imensa estirada de um dedicado missionário. Depois da Eucaristia a sua paixão era a Palavra. Santo Agostinho, o grande santo da Igreja, dizia: “sei que Deus está na Eucaristia. Mas sei que Deus está na Palavra”. Se a ara é o ambão da Eucaristia. O ambão é o altar da palavra. Jamais esqueceu de sua professora primária Rosa Ferreira de Moraes. Tinha carinho sagrado pela Palavra. A Recolhia quando esquecida. Ia buscá-la quando escondida. A consertava quando pisada e machucada. Por 12 anos, em Roma, era um enamorado da palavra. Como tradutor perfeito, achava-se um traidor do vernáculo. Por onde arrastou suas sandálias levava tão somente palavras. Uma missão divina. Viemos, vivemos e morremos com a Palavra. Durante quase 15 anos deitava seu zelo missionário pela Palavra, nas páginas do Diário do Nordeste. A Palavra missionária, não é documento. É sobretudo sacramento. Hermínio nos deixa em pleno mês de Maria, nossa sagrada mãe. Guardou no seu ventre a Palavra que se tornou Deus, no Mistério da Encarnação. Hermínio nos deixa na oitava de Pentecostes, onde o Espírito Santo veio em forma de língua de fogo. Língua e apalavra. Fogo, quando se acende o amor em nos. Fogo sem palavra e fogo fátuo. Palavra sem fogo, e vazia. A palavra divina missionária vem com o fogo amoroso e libertador do Espírito de Deus. Herminio fará falta neste mundo mudo de amor. Ele parte na véspera da Festa da Trindade. Logo ele que fez de sua liturgia diária, a presença da Trindade Santa. Requiescat in Pace. Deus é bom.

José Maria Bonfim é médico e escritor

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Uma resposta

  1. Belíssimo texto do brilhante e querido Dr José Maria Bonfim

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