“Hoje tenho plena convicção que estava errado quando achava que policial era herói. Apesar do altruísmo das nossas ações, não temos o reconhecimento da maioria da população”, aponta o coronel RR PMCE Plauto de Lima. Confira:
Ainda estamos no sétimo mês do ano de 2024 e o estado do Ceará já registra a macabra marca de 11 policiais assassinados. Em qualquer local onde predomina a ordem pública e a civilidade, isso seria motivo para levar multidões às ruas exigindo efetivas medidas do governante ou, até mesmo, a sua retirada do poder.
Ingressei na Polícia Militar no ano de 1989, ainda com 18 anos incompletos, e por pertencer a uma família de policiais sempre associei a imagem policial com a de um herói. Foram quase trinta anos combatendo o crime, o que parece ter sido em vão, diante dos atuais números da violência e dos constantes avanços dos bandidos sobre o Estado, subjugando comunidades e bairros, ou caçando e matando policiais nas ruas das cidades, sob o míope olhar das câmeras públicas que não intimidam a ação dos criminosos.
Nos últimos 4 anos mais de 40 policiais foram assassinados no Ceará. No ano de 2023, 161 policiais foram mortos no Brasil. Infelizmente, a tendência é que 2024 supere os números de 2023. Enquanto isso, os ditos especialistas em segurança pública procuram criminalizar o trabalho da polícia, enfatizando as mortes eventualmente causadas por policiais, mesmo quando a maioria desses casos ocorre por troca de tiros contra perigosos marginais armados, em decorrência do serviço de patrulhamento no nosso bélico ambiente urbano. O único propósito que consigo ver nessa ênfase é a tentativa de desqualificar a imagem da corporação, muitas vezes reforçada por uma cultura musical que enaltece a figura e a linguagem do bandido, como fez recentemente um cantor de rapper em show realizado num luxuoso hotel da nossa cidade, quando retratou os policiais como porcos.
Diante disso, hoje tenho plena convicção que estava errado quando achava que policial era herói. Apesar do altruísmo das nossas ações, não temos o reconhecimento da maioria da população. Quando há suspeitas ou indícios que possam nos incriminar, somos condenados sumariamente pela opinião pública e pelos órgãos de acusação (em alguns casos, até os de defesa pública) sem ter direito ao contraditório. Quando morremos, só nossos colegas e familiares choram por nossa partida, poucos da sociedade se importam e preferem somar à multidão que aplaude o rapper que nos chama de porcos. Afinal, o mais violento dos bandidos, que nos aterrorizou com a sua facção de cangaceiros, hoje é saudado como rei.
Espero que um dia a população desperte desse pesadelo induzido por discursos falaciosos, que criminaliza quem protege e vitimiza quem agride, e valorize aquele que saiu do povo para dedicar a sua vida para a proteção de todos.
Plauto de Lima é Coronel RR da Polícia Militar do Ceará e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas
Uma resposta
Parabéns pela brilhante tra