Com o título “Sobre ser invisível”, eis um texto sensível de Cynthia Rabelo, pedagoga, com especialização em Contação de Histórias, escritora de livros infantis e moradora de São Luis do Maranhão. Confira:
Era domingo, primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio, (ENEM).
A mãe precisava preparar o almoço mais cedo, pois os portões abrem ao meio dia e fecham às 14h, horário de Brasília.
A mãe serve o almoço, a filha come, termina de se arrumar, avisa aos pais que está pronta.
O pai vai levá-la, a mãe fica em casa.
Quando saem, ela fecha o portão, entra pro quarto, se ajoelha diante do altarzinho e começa a rezar para Nossa Senhora. Quem mais poderia ser? Afinal, Ela é a mãe de Jesus, sabe entender a aflição de outra mãe.
No meio da tarde, a mãe recebe uma mensagem: outra mulher lhe diz o tema da redação da prova do ENEM daquele ano: “DESAFIOS PARA O ENFRENTAMENTO DA INVISIBILIDADE DO TRABALHO DE CUIDADO REALIZADO PELA MULHER NO BRASIL”.
A mãe fica tão contente, mas o pai não entende e diz que o tema é confuso. Ah, mas a mãe nem se importa com a resposta do pai, ou se aquele assunto já havia sido abordado nas salas de aulas ou nas rodas de conversa das pessoas que foram fazer a prova. O quê importa mesmo, é que tantas mulheres, assim como ela, estavam sendo lembradas.
E, mais que depressa, se arrumou e chamou o marido para ir esperar a filha sair da prova. Chegaram cedo, conseguiram um lugar legal pra estacionar. Ficaram lendo até 18:30, quando saíram do automóvel e ficaram na calçada.
A mulher observa as pessoas que saem da prova, passa por ela um grupo de rapazes reclamando justamente do tema da redação. Enquanto espera, ali na calçada, observando, a mãe foi percebendo que a maioria das pessoas não havia entendido o tema.
Mas de repente, surge bem à sua frente uma garota preta, franzina, com um sorriso largo, os olhos brilhando e passa por ela, chegando até uma outra mulher, rodeada por duas crianças. Elas se encontram num abraço, a garota fala sobre a prova, a mulher volta a segurar a mão da criança menor e diz entre sorrisos: “vamos, a parada do ônibus não é perto”.
E de mãos dadas, elas descem a rua.
*Cynthia Rabelo,
Por acidente nasceu no lado colombiano da Amazônia e ainda adolescente mudou para Fortaleza. É formada em pedagogia, com especialização em Contação de Histórias e publicou um livro infantil, “A menina que falava com o vento”. É mãe de duas meninas, casada e atualmente vive em São Luís do Maranhão.
Respostas de 16
Terno e triste. Parabéns pela escrita!
Muito bonito! Mãe sempre carregando o mundo nas costas. Nas pequenas e grandes coisas. Somos nós que elevamos esse mundo.
Parabéns!
Esse tema pegou mt gente de surpresa.
E eu adorei…aliás muitas mulheres adoraram, pq isso vai dar o que falar, vai promover reflexão nos filhos, e em mts homens… ate pq alguns não souberam discorrer sobre o assunto na prova.
Obrigada pela pegada sutil e certeira.
Esse é um lugar onde as mulheres se encontram: no invisível do cotidiano. Bom ser lembrada no ENEM e ser vista por esse olhar cúmplice de uma escritora.💃🏽✨
Parabéns minha sobrinha
Você falou tudo e muito.mais.
Para o bom entendedor meia palavra basta
O tema não é difícil não
Difícil mesmo é a turma da valor ao papel da mulher- mãe
Amei o txt! Sensível e bem real. A história nossa de cada dia. Parabéns, Cynthia querida!
Li com lágrimas nos olhos
Lembrando das milhões de vezes que minha mãezinha cuidou de tudo, mas que talvez de tão comum e natural “ninguém evidenciou”. Ela abriu mão de tantas coisas para que tivéssemos as nossas.
Então quando eu tive que sair do ninho confortável, limpo e seguro que ela cuidava com tanto amor, percebi e valorizei muito mais tudo.
Quando me tornei mãe então, aí que vi de perto o tamanho da força de alguém que tá presente o tempo inteiro, mas muitas vezes parece invisível.
Me envergonhei de como eu mirava em meu pai , que vestia seu terno e saia para trabalhar, como se ele fosse o único super herói da casa.
Hoje eu sei muito bem que ele, eu e todos nós recebemos o tempo inteiro a energia do super poder dela para cumprirmos nossas missões .
Para minhas avós, mãe , tias, irmã ,primas e sobrinha minha admiração e votos de felicidade e reconhecimento
Forma cativante de expor a narrativa. Vi as imagens de forma clara! Vivendo a história!! Parabéns Cynthia! Rs
Eu voltei aqui, várias vezes, para ler tudo novamente e a cada leitura vi você Cynthia. Só podia vir de você um texto como esse.
Te conheci uma mãe que impulsionou voos altos, mas que também acompanha cada planagem. Talvez muitas vezes você tenha se sentido invisível, mas acredite!
Seu poder visível e invisível transportaram os seus para grandes voos.
Aprendi com você a admirar e aprender com abelhas, só podia vir de você mesmo, alguém que trabalha incansavelmente para doar seu doce conhecer a quem quiser realmente receber.
Obrigada pele sempre ter palavras sinceras e cheias de afeto .
Muito orgulho de minha nora que consegue descobrir a beleza que há no dia a dia e no crescimento de nossos filhos! Eis a caçula da família lutando para seu ingresso na academia! Parabéns, Cynthia!
Texto extremamente sutil e certeiro: Invisíveis somos todas até quando decidimos sair das sombras. Beijo no coração que voa e impulsiona. Parabéns.
Em tempos confusos um olhar sensível é essencial para esclarecer outros olhares. Amei. 🥰
Texto lindo e sensivel, quem vive esse trabalho invisivel e diario se reconhece e se emociona.
Que lindo texto. Amei.
Que texto sensível, exatamente como a autora. Parabéns! Simplesmente lindo.
Que texto Cynthia! Na simplicidade do relato fica explícito que a fé move a sua missão materna, assim como deve também mover muitas outras mulheres, mães e leitoras, como os pilares de suas famílias e o amparo sagrado de seus filhos e de suas filhas que enfrentam os desafios próprios do seu tempo. Parabéns!