“Sangrando e cambaleando, André Fernandes conseguiu o melhor desempenho nesse bangue-bangue, após receber tiros do PT, do PDT, do União Brasil, do Psol e do Solidariedade, mas revidar a todos com mais precisão”, aponta o jornalista Nicolau Araújo.
Confira:
Como em apenas alguns segundos Fortaleza conseguiu perder o pódio de melhor educação do Brasil e ainda a liderança de maior economia do Nordeste? Como responder sobre o impacto da rubrica de encargos da dívida da Prefeitura, seja lá que diabos isso possa significar? Como um político cearense em Brasília pode ser responsabilizado pela Taxa do Lixo na capital cearense, após a mensagem ser enviada pelo prefeito e aprovada pela maioria dos vereadores, a mais de dois mil quilômetros de distância? Como o líder do governo do PT pode chamar de politiqueiro um pedido de CPI do próprio PT?
Assim foi o clima do Debate O POVO entre seis dos nove candidatos à Prefeitura de Fortaleza, na noite desta terça-feira, 27, na sede da OAB-Ceará, quando todo mundo atirou e todo mundo levou tiro.
Sangrando e cambaleando, André Fernandes conseguiu o melhor desempenho nesse bangue-bangue, após receber tiros do PT, do PDT, do União Brasil, do Psol e do Solidariedade, mas revidar a todos com mais precisão.
Como no caso de Sarto, que tentou se favorecer da sua condição de médico, ao citar a presença de André Fernandes em uma praia do Recife, em plena pandemia da covid, em uma quebra do isolamento social. O candidato do PL, no entanto, lembrou da participação do prefeito de Fortaleza em uma festa com aglomeração de mais de 150 pessoas, quase todos sem máscaras de proteção, um risco imensuravelmente maior de contágio do vírus em relação a um passeio solitário nas areias de uma praia.
Cotado a homem da lei do faroeste, Capitão Wagner somente se fez percebido no tiroteio, após a postura de pistoleiro. Mas fez uso da máscara de José Serra, em 2002, quando o então candidato tucano ao Palácio do Planalto tentou um constrangimento a Lula, ao perguntar sobre um imposto extrafiscal, a CIDE. No Debate O POVO, o candidato do União Brasil quis saber de André Fernandes sobre o impacto da rubrica de encargos da dívida da Prefeitura. Fernandes utilizou o tempo da resposta para revidar o tiro e “restabelecer a verdade” sobre os índices da saúde em Maracanaú, quando Wagner ocupava o cargo de secretário. Poucos entendem de contabilidade. Muitos sabem sobre atendimento à saúde. E a bala de André Fernandes fez estrago maior.
O candidato do União Brasil se saiu melhor quando mirou e acertou na Taxa do Lixo. Com mais um ferimento mortal, Sarto tentou apontar o próprio Capitão Wagner como responsável pela cobrança em Fortaleza, quando o então deputado federal teria votado no projeto que permitiu a criação da Taxa do Lixo, por meio do Marco Regulatório do Saneamento Básico.
A ofensiva de Sarto, porém, fez com que todos percebessem que a saraivada de balas na arma do candidato do PDT tem como maioria os cartuchos de festim. E foi assim que Fortaleza perdeu em segundos a liderança da melhor educação do Brasil, conforme Sarto se vangloriou no debate anterior, na Band. André Fernandes acusou o ranking do Censo Escolar para mostrar que o Ceará possui 10 municípios entre os 30 melhores na rede pública de ensino. Fortaleza sequer deu as caras.
Os tiros de festim de Sarto também fizeram Fortaleza perder o título de melhor economia do Nordeste. O índice foi divulgado em 2021, sem nenhuma relação com a atual gestão de Fortaleza. No ano passado, o IBGE apontou Recife com o melhor PIB per capita. E, mais uma vez, o candidato do PDT agonizou na mira de Fernandes.
Apesar da relevância de seu partido na disputa à Prefeitura de Fortaleza, Evandro Leitão atirou, sim. Mas pouco acertou. Também foi atingido. Mas pouco atingido. Há de receber bom treinamento dos temidos pistoleiros Camilo Santana e Lula.
Sobre Técio Nunes e George Lima, ambos procuraram a estrela de xerife largada por Capitão Wagner. Mas não há como querer ser bom moço em meio a um tiroteio. E levaram mais tiros que Evandro Leitão. E acertaram muito menos que os festins de Sarto.
Aliás, os óculos Juliet e o figurino de playboy não caíram bem para um idoso de 65 anos, principalmente em um cenário de faroeste. Quem sabe um bobo da corte. Mas isso já é roteiro de um próximo filme…
Nicolau Araújo é jornalista pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido
