Com o título “Inteligência emocional na redução da violência”, eis artigo de Djalma Pinto, jurista, escritor e ex-procurador-geral do Estado do Ceará. “A educação não pode se resumir apenas em transmissão de saber. Precisa envolver medidas emocionais e sociais capazes de frear o impulso para o mal comportamento, permitir ao educando imaginar-se no lugar do outro”, expõe o articulista.
Confira:
Política e futebol são movidos pela paixão. Quando esta se sobrepõe à razão, o descontrole pode levar à violência com danos irreparáveis para o agressor e sua vítima. O processo eleitoral brasileiro contemporâneo será eternamente lembrado pela inusitada cena de uma cadeirada do candidato Datena no seu concorrente à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal.
O episódio, cujas imagens percorreram o mundo, fornece dados relevantes sobre o perfil da nossa sociedade, notadamente, sobre o nível de educação para a cidadania enquanto dever constitucionalmente imposto ao Estado e à família. Para os não simpatizantes do candidato agredido, a reação do agressor teria sido uma resposta à altura das provocações de sua vítima. Para os eleitores deste, uma inaceitável tentativa de homicídio estimuladora da impunidade pela ausência de prisão em flagrante do ofensor. A lição do incidente, porém, diz muito sobre a necessidade de o País acordar
para perceber a deficiência do ensino fundamental. Nele deve ser sedimentado o alicerce para a contensão da agressividade.
A advertência de Aristóteles, na sua obra Ética a Nicômaco, não pode ser esquecida no aprimoramento da educação para redução da belicosidade entre as pessoas: “Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil.”
O Código Eleitoral, a partir do art. 289, enumera os crimes eleitorais, com destaque para a compra de voto e ameaça ao eleitor para votar ou não votar em determinado candidato ou partido. Não se reporta, porém, em nenhum dos seus dispositivos ao crime de lesão corporal nem de tentativa de homicídio, em que o bem tutelado é a integridade física. São crimes comuns com previsão apenas no Código Penal.
A força do Direito, a propósito, somente é bem percebida após a sua violação, justamente por ocasião da aplicação da penalidade fixada para punir o infrator. Quando, porém, o nível de violência explode na sociedade é porque ocorreu reiterada falha na educação do ensino fundamental. Não se percebeu a importância da inteligência emocional, por meio da qual são adquiridas as aptidões que incluem
autocontrole, persistência e capacidade de automotivação. Deixou-se de trabalhar essas habilidades na infância. Nela e na adolescência, segundo os especialistas, encontram-se as oportunidades para aprimoramento dos hábitos emocionais básicos que nos acompanham ao longo da vida.
Como as nossas escolas têm trabalhado a empatia ao longo dos anos? Nela, o segredo para aprimorar a convivência social a fim de que os conflitos e as divergências entre as pessoas, notadamente entre os políticos, sejam resolvidos sem agressão que estimula a violência num ambiente já marcado pela insegurança.
O psicólogo Daniel Goleman traz importante contribuição ao mundo contemporâneo, ao ponderar: “Os que estão à mercê dos impulsos – os que não têm autocontrole – sofrem de uma deficiência moral. A capacidade de controlar os impulsos é a base da força de vontade e do caráter. Da mesma forma, a raiz do altruísmo está na empatia, a capacidade de identificar as emoções nos outros; sem a noção do que o outro necessita ou de seu desespero, o envolvimento é impossível. E se há duas posições morais que nossos tempos exigem são precisamente estes: autocontrole e piedade”.
A educação não pode se resumir apenas em transmissão de saber. Precisa envolver medidas emocionais e sociais capazes de frear o impulso para o mal comportamento, permitir ao educando imaginar-se no lugar do outro. Enfim, por meio da neurociência comportamental e da inteligência emocional é possível o gerenciamento de emoções destrutivas, para evitar cadeirada em debate político, apropriação indevida
de dinheiro público e redução da violência nas ruas de nossas cidades.
*Djalma Pinto,
Advogado, autor de diversos livros, entre quais Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto, O Direito e o Comprovante Impresso do Voto, Ética na Política e Distorções do Poder.