Com o título “Fortaleza, Capital da IA no Brasil”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e
PhD em Informática (Sorbonne University).
Parece haver consenso entre gregos da academia e troianos do mercado cearenses de que a Inteligência Artificial (IA) inaugurou um novo observar e fazer no século XXI. Talvez as especulações sobre o dia que a máquina dominaria o homem tenha começado a partir do genial “2001, Odisseia no Espaço” de Stanley
Kubrick, em 1968, se consolidando em 1997 quando Garry Kasparov jogou a toalha no ringue sendo destronado pelo Deep Blue da IBM.
O historiador best seller Yuval Harari, em palestra recente sobre a “IA e o Futuro da Humanidade”, alerta que a maior ameaça da IA para a civilização humana não está em um dia ela ter consciência ou sentimentos, mas sim no domínio da linguagem, a chave que abre as portas de instituições, do sistema financeiro etc. Harari segue lembrando que direitos humanos, deuses, dinheiro não são realidades biológicas inscritas no nosso DNA, mas invencionices criadas pelo homem com sua “linguagem” … esta poderosa ferramenta que estamos ensinando a uma nova geração de máquinas dotadas de criatividade, capazes aprender por si mesmas, coisa que o Deep Blue da IBM não fazia.
Voltando aos gregos e troianos reunidos no Cantinho do Frango, também foi consenso entre eles que o Harari se refere em sua ilação à revolucionária IA Generativa (essa IA do ChatGPT que cria coisas). E antes que o Karlos Markes, o nosso garçom politizado, voltasse com “uma estupidamente”, conclui-se que a
apropriação hoje da IA por um país assemelhar-se-ia à tecnologia naval que fez da Escola de Sagres a “rede neural” da colonização ibérica. “Essa IA é uma tecnologia de dominação”, vocifera Karlos Markes enquanto abre “outra estupidamente” no dente, só pra se amostrar. “Bora escrever um manifesto”, propõe ele.
Os gregos do Itaperi e os troianos do Pici convocam, então, os da Treze de Maio e da Washington Soares. O encontro seria na histórica Torre Boris, lugar de singular energia que viu Fortaleza de calças curtas passear no Passeio Público, crescer de namorar na Ponte Metálica, pedir noivado no Iracema Plaza do Hotel São Pedro. Nasceu assim a proposta “uma Fortaleza Inteligente, Humana e Sustentável”, com
cinco ideias ousadas, factíveis, pra fazer Fortaleza a Capital de IA no Brasil:
- Centro de Inteligência Por
Lócus de Estratégia e Articulação de ações de Impacto de uma Fortaleza
mais Inteligente, Humana e Sustentável. Uma plataforma de dados
integradora é a base para Fortaleza ser a capital da inovação no Brasil. - Serviços Inteligentes
Conjunto de iniciativas e projetos para otimização de serviços da
prefeitura, com foco na inovação de processos com transformação digital
(Mobilidade Urbana, Resíduos Sólidos, Iluminação Pública, Participação
Cidadã etc.). - Aceleradora de Negócios Inteligentes
Metodologia moderna com diretrizes, ações e iniciativas criativas e
inovadoras que facilitem a criação e crescimento de negócios em
tecnologia para o desenvolvimento social e econômico de Fortaleza,
retendo e atraindo empresas para o mercado local. - Fábrica de Soluções Inteligentes
Modelo de formação, ideação e construção de soluções usando
tecnologias modernas, ativado em todas as regionais de Fortaleza, criando
ambientes para o desenvolvimento de soluções inteligentes e disruptivas,
envolvendo principalmente jovens da periferia. - Cidadania Digital e de IA
Trata da criação de espaços de fruição, inclusão, letramento e
empoderamento do cidadão cearense dentro do universo das novas
tecnologias, democratizando o acesso, às tecnologias do futuro focado na
integração social do jovem e da pessoa idosa.
Fortaleza se candidata, assim, Capital da IA no Brasil com as cinco propostas acima, apoiada por sua localização estratégica (entrada de cabos submarinos de fibra ótica), infraestrutura digital (primeiro Cinturão Digital do Brasil), capacidade de formação de talentos (três universidades, um Instituto Federal e várias Escolas profissionalizantes), empresas experientes já atuando na área de IA (algumas com atuação e destaque nacional como Lanlink, HapVida, Brisanet, Energy Telecom) Cidades que se posicionarem como centros de inovação, com a capacidade de controlar dados e desenvolver IA, terão vantagem competitiva no futuro global. IA está redefinindo não apenas o mercado de trabalho, mas também as interações sociais e políticas. Cidades que perceberem a IA estarão na dianteira do futuro.
Fortaleza tem condições para se destacar como Capital da Inteligência Artificial, desde que implemente ideias como as propostas acima, aproveite suas vantagens competitivas acima, invista mais fortemente em formação e retenção de seus talentos e adote princípios éticos para o desenvolvimento tecnológico. Teremos assim uma Capital da IA no Brasil, uma Fortaleza mais inteligente, Humana e Sustentável … para os nossos “gregos e troianos” que virão.
*Mauro Oliveira
Professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University).