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“Uma eleição decidida por ‘um fio de bigode'”

Luciano Cléver é jornalista

“O ato decisivo, porém, foi arrastar um porco pelas ‘zoreia’. Virou zoeira nacional. Cenas horrorosas de violência explícita e simbólica”, aponta o jornalista Luciano Cléver.

Confira:

Como pode sair do primeiro turno com mais de 80 mil votos e ser ultrapassado no segundo? Na garupa dessa interrogação, amontoam-se teorias conspiratórias. Em cada uma delas, as mais díspares, um único protagonista: o sistema. Não deixa de ser verdadeiro. Mas, qual sistema? Talvez o límbico, responsável pelas emoções.

A campanha de André Fernandes foi linda, como disse Roberto Cláudio. Manteve-se até a undécima hora numa estratégia vitoriosa, que o consagrou até o dia 6 de outubro, contrariando a maioria dos prognósticos. “Não chega ao segundo turno, será tratorado pela máquina do governo (municipal, estadual, Alece, federal e MEC).

Do meio para o fim do primeiro turno, a conversa mudou. Vai para o segundo turno porque será o candidato mais fácil de ser abatido. Mas nada o abateu, cresceu nos movimentos, nas carreatas e bloquinhos. A direita não era nada daquilo que diziam dela, ninguém via em seu rosto, seja nos debates, seja nos programas do horário eleitoral, a cara da truculência.

Na proporção em que crescia sua simpatia, a campanha de Leitão – se não o próprio candidato, mas por seus asseclas – fazia porcaria centrando fogo na propaganda negativa, resgatando vídeos, manipulando imagens e disseminando, como fez o líder do Governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães. Logo ele, que refuta os dólares na cueca (com dinheiro saindo pelo cofrinho ainda hoje), afirmou que André não gostava de mulher.

Quanto mais batia, maior a consciência de que ele estava à frente nas pesquisas. Ninguém bate em quem está em situação de inferioridade na campanha eleitoral. A alegria era tanta se deixou contaminar com o “já ganhou”, o pior adversário, o mais fatal, das campanhas ganhas por antecedência e que têm a derrota como consequência.

Com tanta pancada vindo de uma candidatura que acusava a outra de odienta, uma hora teria reação. Se não do zero um, mas de um de seus apaixonados. Um deles se emocionaria. A esquerda tinha os seus pitbuls, como se revelou o líder do PT na Assembleia, Diassis Diniz. Mas foi na boca de urna, com pouco espaço para exploração. O povo já estava na cabine de votação.

A direita demorou, mas mostrou os dentes. E o bigodão. Fanfarronices como a do Inspetor Alberto não costumam prevalecer na contagem dos votos, a não ser em disputa tão acirrada como esta. A derrota de Bolsonaro para Lula, que venceu por margem ínfima, costuma-se atribuir a dois atos de aloprados. A imagem de Zambelli de arma com perseguição em ruas. E Roberto Jefferson, resistindo à prisão e atirando contra policiais. Violência explícita.

Em Fortaleza houve das suas. O inspetor Jefferson Zambelli aloprou. A primeira atitude foi a estupidez de mandar Leitão preparar o seu caixão (ops, carvão). Leitão se disse gravemente ameaçado (nota-se que não faria mesmo a tal da CPI). O ato decisivo, porém, foi arrastar um porco pelas “zoreia”. Virou zoeira nacional. Cenas horrorosas de violência explícita e simbólica. De quem não se importa com os maus tratos de animais. Bigodão, o senhor é um fanfarrão.

Outro erro tático foi o de anunciar o secretariado, quando foi ventilado o nome de Dra. Mayra para a Saúde. O anúncio de secretários, em si, não é de bom augúrio. Lembre-se do caso de FHC. Provocado por um fotógrafo, deixou-se fotografar na cadeira de prefeito de São Paulo. O histriônico Jânio Quadros venceu e desinfetou o assento. O anúncio, embora negado, foi explorado evocando energias ruins que traduzem o epíteto de Capitã Cloroquina.

A despeito dos atropelos táticos, deve ter havido exaustão financeira, para a arrancada na reta final. A cidade, como em outras circunstâncias, foi tomada pelas cores de um candidato. O vermelho se espraiava, dando conta da sangria do sistema. Sangria em todos os sentidos de sua polissemia. O Dia D foi fatal, desequilibrou.

Na pré-campanha, André Fernandes reuniu-se com uma trinca de jornalista, queria contratar conselhos. E recebeu de graça um deles: – Foque na sua campanha, esqueça Caucaia e guarde seus pitbuls, que atuam em Fortaleza e na cidade vizinha. Demonstrou ter gostado da ideia. Mas acabou desistindo dos jornalistas, entregou-se aos marqueteiros. E deve ter se esquecido dos conselhos. “Se fosse bom, ninguém dava”, deve ter pensado.

Uma gaiatice que rolou nas redes não deixa de ter sua sabedoria: a vitória veio por fio. Quem raspou, perdeu.

Luciano Cléver é jornalista

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Uma resposta

  1. O jornalista Alexandre Garcia cantou a pedra, disse ele,(com uma margem tão pequena, seria o caso de recontar os votos, mas não temos comprovante,fica por isso mesmo).

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