“A investigação da Polícia Federal demonstra cabalmente as ações operacionais criminosas executadas por militares com formação em Forças Especiais”, aponta o cientista político Alexandre Aragão de Albuquerque.
Confira:
A semana continua repleta de acontecimentos importantes para nosso estarrecimento, reflexão e consequente tomada de posição.
Com os fatos revelados, de caráter terrorista militar, com requintes de crueldade, meticulosamente planejados e parcialmente executados por oficiais graduados das Forças Armadas para assassinar o Presidente Lula, o vice-Presidente Alckmin e o Ministro Moraes, impõe-se a indagação de como devemos agir, enquanto indivíduos e como nação, para banir tais ameaças abjetas, de homicídios de cidadãos e de autoridades, visando a um golpe de Estado.
O povo brasileiro acompanha com forte atenção o desvelamento dos segredos contidos no celular do tenente-coronel kid preto Mauro Cid, por ele extraviados da base de registros, mas recuperados pela Polícia Federal.
Flávio Bolsonaro, tornado notório pelo codinome Zero Um, desesperado diante da nudez dos fatos, talhou um pronunciamento em comissão do Senado, proferindo palavras de baixo calão, contra o decoro parlamentar, afirmando que “pensar em matar não é crime”. Note-se que em momento nenhum ele contestou o conluio da organização criminosa em reuniões ocorridas na Casa do Braga. Seu destempero levou-o inclusive a ameaçar o Ministro Alexandre com um impeachment. Tamanha agonia!
Esta última semana, desde o ato bizarro perpetrado pelo homem-bomba na Praça dos Três Poderes, nos faz recordar Bertold Brecht (1898 – 1956), dramaturgo e poeta alemão do século XX. Com seu teatro inovador ensejava provocar a reflexão de seus leitores e público, muito mais do que apenas a propiciar-lhes entretenimento.
Brecht introduziu a técnica do “estranhamento” visando distanciar o público da narrativa emocional, para favorecer a análise crítica das ações dramáticas. Suas peças abordavam temas como a guerra, a injustiça social, a exploração econômica, procurando fazer do teatro uma ferramenta para a tomada de consciência política dos espectadores.
Na peça “A Exceção e A Regra” (1929/1930), Brecht problematiza a inversão da lógica do poder na qual a exceção vira a regra. Não matar é uma regra, mas em regimes autoritários torna-se exceção. Do magnífico texto, destacamos o poema “Não digam nunca: isto é natural!”:
Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam nunca: isto é natural, diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão,em que escorre sangue,em que se ordena a desordem,em que o arbítrio tem força de lei,em que a humanidade se desumaniza…Nunca digam nunca – isto é natural! –Para que nada passe a ser imutável. Eu peço com insistência: nunca digam nunca – isto é natural” – Estranhem o que não for estranho. Tomem por inexplicável o habitual. Sintam-se perplexos com o cotidiano. Tratem de achar remédio para o abuso. Mas não se esqueçam que o abuso é sempre uma regra.
No dia 09 de dezembro de 2022, o general Mário Fernandes, coordenador do plano homicida Punhal Verde-Amarelo, enviou uma mensagem de áudio para Mauro Cid dizendo que o então presidente Jair Bolsonaro havia aceitado o seu assessoramento. É exatamente neste dia nove de dezembro que Bolsonaro rompe o silêncio, vai para o jardim do Palácio da Alvorada manifestar à sua claque que não abandonará a presidência. (https://www.youtube.com/watch?v=AdQuqtzxSfs).
Suas palavras criptográficas reforçam ser ele o Chefe Supremo das Forças Armadas, conclamando à unidade e à lealdade as forças em torno a si, demonizando mais uma vez seus opositores, metodologia utilizada como ferramenta ideológica em todo o seu mandato presidencial.
Além disso, dá ênfase ao inevitável sacrifício de vidas, diante de uma suposta encruzilhada em que o Brasil se encontra, conclamando todos a se engajarem na reação de manutenção da sua presidência, desafiando a soberania popular que elegeu pelo voto Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que quem decide para onde as Forças Armadas irão seguir será aquela claque ali presente, porque para ele “nada está perdido”. A linguagem sempre revela o que uma pessoa tem dentro de si ou o que conserva inconscientemente.
Lembremos que neste ano de 2024, em 05 de janeiro, o ministro da Defesa do Governo Lula, José Múcio Monteiro, em entrevista ao Jornal O Globo, admitiu, sem os nominar, que havia um grupo de militares das Forças Armadas dispostos a perpetrar um golpe de Estado naquele fatídico 08 de janeiro de 2023. Por que Múcio Monteiro não elencou o nome desses criminosos? Pergunta até agora não respondida. Como obteve tal informação por ele publicizada? Por que a Polícia Federal não o intimou imediatamente para saber de onde e como ele obteve tais ameaças?Numa resposta posterior, entretanto, para Múcio Monteiro, o movimento golpista com o ataque vândalo às sedes dos Três Poderes não passou “de um grande piquenique conduzido por senhoras e crianças, com a presença inclusive de seus parentes e amigos”. A verdade factual é que o tal piquenique de José Múcio foi uma manifestação estética recheada a fezes, mijos e depredações criminosas, bem fiel ao ethos bolsonarista, travestidas de verde-amarelo, como em todas as suas manifestações públicas, com a presença de vários familiares de militares (https://www.instagram.com/reel/DCmcddhhO0M/?igsh=bHM2aWZxZjMwbDNy ), entre as quais esposas e filhas, uma vez que muitos daqueles homens não tiveram coragem de mostrar suas caras lavadas, a partir do covarde-mor Bolsonaro que fugiu para os EUA no último dia do ano de 2022.Terça-feira, 19/11, foram presos por medida cautelar, impedidos de se ausentar do país, com a suspensão do exercício da função pública, o general de brigada Mário Fernandes, o tenente-coronel Hélio de Oliveira Lima, o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, o policial federal Wladimir Matos Soares e o tenente-coronel Rodrigo Bezerra Azevedo, pela Petição 13.236, com a representação da Polícia Federal, prisão preventiva motivada por: a) ataque virtuais a opositores; b) ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral; c) tentativa de Golpe de Estado e Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito; d) ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia; e) uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.
A investigação da Polícia Federal demonstra cabalmente as ações operacionais criminosas executadas por militares com formação em Forças Especiais (FE) do Exército – kids pretos – com finalidade inicial de monitorar o ministro Alexandre de Moraes (STF), para execução de sua prisão ilegal e posterior assassinato, seguindo-se do planejamento do homicídio do Presidente eleito LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA e do Vice-Presidente eleito GERALDO ALCKMIN, com a finalidade de impedir a posse do governo legitimamente eleito, para restringir o livre exercício da Democracia e do Poder Judiciário brasileiro.
A Petição 13.236 registra ainda que as análises e alterações realizadas pelo então presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO na denominada minuta do golpe são apontadas pela Polícia Federal na Pet 12.100/DF, que gerou prevenção para a distribuição desta Pet 13.236/DF, na qual se verificou que mensagens encaminhadas por MAURO CID para o general FREIRE GOMES, então Comandante do Exército, sinalizaram que o então presidente JAIR MESSIAS BOLSONARO estava redigindo e ajustando a minuta do ilegal DECRETO GOLPISTA e já buscando o respaldo do general ESTEVAM THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, tudo a demonstrar que os atos executórios para um Golpe de Estado estavam em andamento. E estes dois generais não tomaram atitude alguma de denunciar às autoridades o que estava ocorrendo, nem tampouco impediram seus subalternos de agir.
Estão faltando ainda a análise dos celulares de Braga Netto, de Heleno Augusto, de Eduardo Pazuello e, logicamente, de Jair Messias Bolsonaro. Além, logicamente, de uma ampla perícia da Casa do Braga, local do planejamento dos crimes desvelados pela Polícia Federal. Exames periciais precisam ser feitos com a máxima competência técnica porque muitos eram sabedores que lá, na Casa do Braga, planejaram-se, pela organização criminosa que a frequentava, os assassinatos do Presidente Lula, do Vice-Presidente Alckmin, do Ministro Alexandre e abolição violenta do Estado de Direito Democrático. Depois é julgar e condenar por muitos anos de prisão os integrantes desta organização militar criminosa.
Alexandre Aragão de Albuquerque é escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)