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‘Lições da Síria”

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Lições da Síria”, eis artigo de Djalma Pinto, jurista, ex-procurador-geral do Estado e autor dos livros “Ética na Política”, “Distorções do Poder” e “Direto e o Comprovante Impresso do Voto”.

Confira:

Sem o auxílio vigoroso da Rússia, Irã e do Hezbollah, os rebeldes investiram-se no governo da Síria, derrubando o ditador Bashar-al-Assad. A obsessão patológica pelo poder manteve o pai de Assad, Hafez, no comando do Estado, após um golpe em 1971, por longos 29 anos, com implacável mão de ferro. Seu filho e sucessor, desde 2000, governava com repressão permanente aos seus opositores. Sua psicopatia, inerente a todo tirano, o impediu de compreender que o poder deve emanar do povo, por meio de eleições livres, limpas, transparentes, com regras que não permitam desconfiança no resultado da apuração.

A incapacidade de estabelecer uma alternância do poder de forma civilizada provocou uma guerra civil em 2011, naquele País, com cerca de 500 mil mortos e vários milhões de refugiados, provocando em uma crise humanitária sem precedente.

Não pode existir lição maior de obscuridade do que matar, prender e mandar pessoas para o exílio apenas para a preservação da autoridade, que se excede em arbitrariedades. A explicação é simples. Todo poder é efêmero. Por mais condecorações e dimensão de força utilizada para exercê-lo, o seu ocupante, tal qual o mais insignificante dos mortais, ficará velho, decrépito e partirá sem levar honraria alguma para um lugar desconhecido, privativo dos mortos.

Quanta estupidez exibe todo tirano! Aos ditadores falta capacidade para lembrar o destino macabro de seus antecessores, como Sadan Hussin, Omar Kadaf e outros que aterrorizaram seus contemporâneos. Nunca se imaginaram no lugar de suas vítimas. Destituídos de seus cargos, hostilizados pelos cidadãos, acabam, tarde demais, refletindo sobre esta lição de Epicuro: “Nem a posse de riquezas nem a obtenção de cargos ou poder, produzem a felicidade”.

Passa da hora de o mundo buscar humanizar e qualificar as pessoas para o exercício do poder. As lições devem iniciar-se objetivando a sedimentação dos valores da impessoalidade, da solidariedade, do respeito ao dinheiro da população e um compromisso permanente com a realização de eleições limpas, com inquestionável isenção dos aplicadores das regras da disputa.

Cada pessoa deve ter o direito de buscar a felicidade. Direito esse difícil de ser exercido, em ambiente de opressão, nos estados cujos governantes não se libertaram da obsessão pelo poder. Cegos no seu exercício, esquecem que o inferno deverá aguardá-los com todos os enigmas que o envolvem.

Poder sem limite é perversão. O pior do seu exercício doentio é fazer escola, estimulando novos seguidores, ainda mais pervertidos. De um modo geral, os governantes não sabem que são educadores das futuras gerações. Suas ações incorporam-se na cultura do seu povo. Por certo, os rebeldes sucessores de Assad continuarão prendendo, perseguindo e matando seus adversários, na mesma linha da lição ensinada pelo ditador fugitivo.

Depois de tantos avanços tecnológicos, o homem continua, porém, embrutecido no quesito exercício do poder. Mata para conquistá-lo e nele se manter. Assalta o dinheiro do povo sem constrangimento algum. Não tem compromisso com a meritocracia. Reproduz os atos delituosos dos antepassados, impedindo o avanço do processo civilizatório capaz de fomentar a prosperidade e a paz entre os humanos.

*Djalma Pinto

Autor de diversos livros, entre os quais Ética na Política, Distorções do Poder e o Direito e o Comprovante Impresso do Voto.

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