“Figuras públicas, que no passado se apresentaram como defensores do meio ambiente, agora contradizem seus próprios discursos para favorecer práticas que priorizam interesses econômicos em detrimento da vida e da dignidade humana”, aponta a assistente social e sindicalista Ravenna Guimarães
Confira:
A recente aprovação do projeto conhecido como “Chuva de Veneno” pela Assembleia Legislativa do Ceará, com o apoio do governador Elmano de Freitas e de deputados estaduais, é um golpe cruel contra a saúde pública, a segurança alimentar e a proteção ambiental. Essa decisão não é apenas um ataque à legislação ambiental, mas um grave retrocesso para o Ceará, que até então era o único estado brasileiro a proibir a pulverização de agrotóxicos por aeronaves, graças à Lei 16.820/2019, de autoria do deputado estadual Renato Roseno (PSOL).
A revogação dessa lei representa a negação de uma luta histórica. Não é exagero afirmar que essa medida coloca em risco vidas humanas, contamina alimentos e compromete a biodiversidade. É preocupante observar que figuras públicas, que no passado se apresentaram como defensores do meio ambiente, agora contradizem seus próprios discursos para favorecer práticas que priorizam interesses econômicos em detrimento da vida e da dignidade humana.
Essa decisão também desonra a memória de Zé Maria do Tomé, líder comunitário brutalmente assassinado por sua corajosa luta contra o uso indiscriminado de agrotóxicos. Sua trajetória, marcada pela defesa da vida e do meio ambiente, deveria inspirar políticas públicas mais humanas e sustentáveis, e não ser vilipendiada por ações que trazem de volta os fantasmas da contaminação e do envenenamento em massa.
A postura daqueles que zombaram do deputado Renato Roseno após a aprovação desse projeto é lamentável. Em vez de celebrarem o retrocesso, deveriam aprender com o exemplo de Roseno, cuja lei colocou o Ceará na vanguarda nacional da proteção ambiental. Essa zombaria, porém, não apaga a dignidade dos que votaram contra o projeto, reafirmando seu compromisso com a vida, a justiça social e a preservação do futuro.
Ainda há quem resista. Movimentos sociais, ativistas e entidades continuam firmes na defesa do meio ambiente e da saúde pública. Essa luta é mais necessária do que nunca, pois vivemos tempos em que interesses econômicos e políticos tentam sobrepor-se ao bem-estar coletivo.
Aqueles que hoje celebram a revogação da lei ignoram que a história é implacável. O Ceará tinha a chance de se consolidar como referência na proteção ambiental e na segurança alimentar, mas optou por abrir mão dessa liderança. É essencial que a sociedade cearense não aceite esse retrocesso calada.
Ravenna Guimarães é presidente do Sindicato dos Assistentes Sociais do Ceará e coordenadora-geral do Fuaspec