Com o título “O Causo do Comício”, eis um testemunho de Gonzaga Mota, ex-governador do Ceará e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, sobre encontro que teve com o falecido Tancredo Neves.
Confira:
Em 15 de janeiro último, ocorreu o 40º aniversário da eleição de Tancredo Neves para Presidente. Lembrei-me de alguns momentos em que tive o privilégio de conviver com o competente, afável e experiente político das Minas Gerais.
O fato, ora mencionado, diz respeito ao comício pró-eleições diretas realizado em fevereiro de 1984, em Fortaleza.
No início do referido mês, fui a Belo Horizonte participar do lançamento da candidatura de Aureliano Chaves para presidente, na hipótese de aprovação da Emenda Constitucional Dante de Oliveira. Foi uma grande festa cívica. Durante a cerimônia fui procurado pelo chefe da Casa Militar de Tancredo Neves.
Em nome do governador, convidou-me para um almoço a dois no Palácio Mangabeiras. Comuniquei ao vice-presidente Aureliano Chaves e fui estimulado a comparecer ao encontro. Tancredo – companheiro mensal na Sudene, me deu toda assistência nos dois dias que fiquei em BH.
Sabendo da realização, no final do mês, do comício das diretas em Fortaleza, disse-lhe que gostaria de participar e de retribuir a atenção a mim concedida por ele. Olhou para mim, segurou meu braço com delicadeza, e disse: “Não faça isso, pois ainda é ruim para mim e para você. O pessoal do PMDB vai ficar com ciúmes de mim e do PDS de você.” Percebi o alcance da ponderação.
Após o comício, atendi uma ligação telefônica.
Disse-me Tancredo:
-Meu filho, estou jantando na casa do Ozires Pontes e logo retornarei. Pensei muito em você. Gostaria de vê-lo na próxima semana, em Brasília. Forte abraço”.
Respondi:
-Boa viagem, Presidente, até BSB.
Eis um causo histórico.
*Gonzaga Mota
Professor aposentado da UFC e ex-governador do Ceará.