Com o título “Júlio Sales: missão cumprida”, eis artigo de Ernesto Antunes, consultor empresarial do Sebrae e Senai e autor do livro “Empreendedorismo: causos e cases de sucesso”. Hora de homenagear um radialista que soube fazer da sua narração esportiva um case de sucesso.
Confira:
Como amante do rádio, desde a época da extinta Rádio Uirapuru que eu frequentava como um adolescente curioso e antenado pela comunicação, no final dos anos 70 e início dos anos 1980, senti uma prazerosa sensação de conviver com grandes radialistas como Cid Carvalho, Will Nogueira, Carlos Fred, Paulo César Carioca e Júlio da Imperatriz Sales, como era chamado pelos mais íntimos.
Nessa época, ouvia os jogos do meu clube de coração no estúdio da Uirapuru, situada na Quintino Bocaiuva, com os plantonistas Paulo César Carioca e o Ramon Paixão, e, eventualmente, no estádio, quando o então presidente da FADEC, Cid Carvalho, me presenteava com cortesias para ir ao Castelão. Nessa época, eu deveria ter uns 12 anos e já acompanhava as narrações esportivas, seja do Júlio Sales, Tom Barros e Vilar Marques, ou ‘in loco’ nas cabines das rádios.
Com a notícia do falecimento de Júlio Sales, que, como a maioria dos narradores da época, narrava os jogos com o coração, extravasando emoção na hora do gol, principalmente do seu Fortaleza Esporte Clube, fiquei bastante tocado. Júlio era diferente, pois lembro-me de um jogo que ouvi no radinho de pilha, presenteado pela minha mãe, nos anos 1970, quando ele vaticinou um gol do Fortaleza, do jogador Zé Carlos, de cabeça, na cobrança de um escanteio. Parece incrível, mas o Júlio tinha essa premonição em alguns jogos e, normalmente, apostava nas suas intuições e vivência no futebol. Dizem até que ele foi goleiro.
Fico sempre imaginando um profissional do rádio que consegue transmitir, em uma narração, a emoção de um jogo de futebol, basquete ou futsal, somente com sua voz forte, onde nos fazer parecer que estamos juntos, vivendo a mesma emoção. Na televisão, o único que consegue fazer isso com emoção é o narrador Galvão Bueno. O Júlio Sales era assim: quando gritava no momento dos gols do Fortaleza o seu “mata-leão”, a sua paixão transcendia a lógica das coisas, empolgando até quem não era torcedor do tricolor. Em sua trajetória profissional, ainda batizou vários jogadores, como o Capivara, a Maravilha Negra, o Pantera e até o Homem Raio, o preferido nas suas narrações de gols.
Trazer para a nossa realidade atual o exemplo de profissionalismo e paixão de Júlio pelo que fazia deve servir de inspiração. Com mais de 80 anos de idade, ele atuava frequentemente, seja às 6h da manhã ou às 11h da noite, e tinha fôlego para comandar programas esportivos como se fosse ainda um garoto iniciante. Admiro pessoas que, com trabalho, paixão e determinação,
conseguem ocupar espaços e continuar produtivas, com milhares de seguidores. Esse é o papel de um líder, que, além de liderar pelo exemplo no que faz, consegue representar uma camada do público que o acompanha.
Portanto, que apareçam outros profissionais como ele, que, independentemente da missão, fazia do seu trabalho um instrumento de alegria, entretenimento e emoção para os que o admiravam.
Vá em paz, veterano! E… vaaaput!!
*Ernesto Antunes
Consultor Empresarial do Sebrae e Senai e autor do livro “Empreendedorismo: causos e cases de sucesso”.
Respostas de 2
Muito bom o texto e a homenagem ao Julinho que honrou a sua profissão.
Ótimo artigo, uma bela e justa homenagem ao grande narrador esportivo!