“A vida simples é um bordado feito de pequenos gestos, risos ingênuos e olhares que contam histórias sem palavras”, aponta o arquiteto Totonho Laprovitera
Confira:
“Manhã de café. Perfume que desperta a cidade inteira.” (Ferreira Gullar)
Certa vez, ao encontrar um amigo das antigas, comentei: “Lembra quando seus negócios ainda estavam começando? Bastava passar por uma bodega que você parava para ajeitar os produtos nas prateleiras.” Ele me olhou, deu um sorriso simples e respondeu: “Claro que lembro! E ainda hoje faço isso, sabia?” Os produtos que ele organizava com tanto carinho eram da sua própria empresa. Hoje, esse amigo é presidente de um grupo que lidera nacionalmente o mercado de seu segmento.
Falando no amigo, tem uma história que é um grande exemplo de respeito familiar. Quando sua filha se formou em uma conceituada universidade norte-americana, ele, emocionado, disse: “Minha filha, peça o presente que quiser. Faço questão de lhe dar.” E sabe o que ela pediu? “Pai, eu quero meu avô na minha festa de formatura.” E assim, lá se foi o avô, já com a idade avançada e enfrentando as dificuldades que o tempo traz. Porque, para quem entende o verdadeiro valor das coisas, certas presenças valem muito mais que qualquer presente material.
A vida simples é um bordado feito de pequenos gestos, risos ingênuos e olhares que contam histórias sem palavras. Seus valores não estão no luxo, mas na autenticidade dos momentos: no cheiro do café coado, no gosto do feijão temperado com afeto e no tempo partilhado com a alegria do coração. A beleza não mora na ostentação, mas na paz de quem se contenta com pouco e ainda encontra espaço para dividir. É saber valorizar as pessoas pelo que sã o, nã o pelo que têm, e descobrir que, bem vivida, a simplicidade vira o pouco em um universo inteiro.
Falando em bons valores, em Tortora, na Itália, um viajante entrou em uma cafeteria, pediu um café e se sentou. Enquanto isso, um casal pediu cinco cafés: dois para eles e três “pendentes”. Pagaram pelos cinco, tomaram dois e saíram. Invocado, o viajante perguntou ao balconista o que significava, mas recebeu um “espere e verá”.
Outros clientes chegaram, alguns pagando normalmente, outros deixando cafés pendentes. Mais tarde, um homem humilde, de barbas longas e roupas gastas, entrou e perguntou: “Vocês têm algum café pendente?” O balconista lhe serviu imediatamente. Essa prática, surgida em Nápoles, permite pagar antecipadamente por quem não pode. Um gesto simples que espalha generosidade e aquece o coração.
Essas histórias mostram que a verdadeira grandeza está nos pequenos gestos. Seja ao atender um desejo ou compartilhar algo simples, a simplicidade e a generosidade expressam a mais pura forma de riqueza. Agora, para economizar manteiga, coloque a faca da manteigueira debaixo do bule de café quente. Assim, ela derrete na medida certa para passar no pão, sem exagero ou desperdício.
Por fim, com licença, que eu vou tomar meu café com pão!
Totonho Laprovitera é arquiteto