“Oposição no Ceará precisa trabalhar suas contradições” – Por Carlos Holanda

Carlos Holanda é jornalista, com experiência na Política. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Oposição no Ceará precisa trabalhar suas contradições”, eis artigo de Carlos Holanda, jornalista. A tarefa é complexa e demanda bons formuladores. Roberto Cláudio e Capitão Wagner são os mais capacitados, segundo o articulista.

Confira:

A experiência política a que estamos habituados passa mais pelo exercício de acomodar contradições do que pelo de evitá-las. Ou, pior, de fingir que elas não existem. Encontrar na união de diferentes um sentido superior ao da simples negação ao adversário a quem se enxerga como “mal maior” é um trabalho para gente grande e com repertório. O conteúdo da negação como carro-chefe discursivo é compatível com segundos turnos, quando o apoio a quem avança é dado sobretudo pela identificação de um adversário comum. Dos termos genéricos aos objetivos.

Em 2024, Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (UB) se uniram em torno de André Fernandes (PL) contra Evandro Leitão (PT) no segundo turno da disputa à Prefeitura de Fortaleza. Não se queria ver o PT acumular tanto poder. As candidaturas de José Sarto, do PDT de Roberto, e de Wagner naufragaram antes do que previam.

É bem possível que estes agentes políticos se sentem ao redor da mesma mesa para discutir como irão ao enfrentamento eleitoral de 2026. Na hipótese de a conversa se traduzir em acordo, sairão de mãos dadas desde o princípio. Aplicar a lógica que os uniu em 2024 a 2026 será um erro básico.

Roberto Cláudio e Capitão Wagner são os melhores formuladores da oposição. São os mais eloquentes nas críticas que tecem a quem está com o poder nas mãos, ou seja, ao grupo do governador Elmano de Freitas e do senador licenciado e ministro da Educação, Camilo Santana, ambos do PT.

Necessitarão da mesma desenvoltura para explicar as razões pelas quais seres tão diferentes entre si poderão estar instalados numa mesma chapa. A começar por eles dois, com seus respectivos grupos políticos. É provável que o PL esteja no arco desta oposição, tornando a missão ainda mais exigente.

Roberto e Wagner foram adversários em 2016, na disputa à Prefeitura de Fortaleza. Em 2020, Wagner enfrentou o candidato de RC, José Sarto (PDT), que repetidas vezes o ligou ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) de modo crítico. Foi ao segundo turno e perdeu para o pedetista. O histórico deles é de críticas mútuas, não de elogios. Possuem mais tempo de antagonismo que de alinhamento.

O líder de Roberto Cláudio, o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT), acumula episódios de confrontos não só políticos como jurídicos com Wagner. Se a paz e a união se estabelecerem entre os dois grupos políticos, precisarão ser convincentes como aliados, pois foram muito convincentes como adversários. As razões que, até aqui, os colocaram em lados opostos são claras como a luz do dia.

A radiografia dos problemas do Ceará não precisa ser idêntica, mas harmônica. Em alguns momentos podendo ganhar contornos de complementaridade. É preciso trabalhar estes pontos para já.

Como se pode ver, não é tarefa para qualquer um. A má execução dela fortalecerá a associação de suas imagens ao oportunismo e à incoerência. Do lado situacionista, o secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, dá seguidas demonstrações de ser uma máquina do embate político. Porque domina seu principal mecanismo: a comunicação. Do Palácio da Abolição, ele observa estes e outros aspectos.

*Carlos Holanda

Jornalista, esteve na redação do O POVO de 2017 a 2024, foi repórter especial de Política e assinou coluna sobre a desinformação e suas repercussões no debate público.

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