Com o título “CAMÔNI”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico.
Confira:
“O Contador de Histórias”, com texto de Eduardo Campos e narração de João Ramos, era um dos meus programas favoritos da TV Ceará, Canal 2. Lembro também dos filmes de faroeste exibidos nos primórdios da televisão em Fortaleza – sem dublagem nem legendas – que inspiravam a meninada a brincar de “Camôni”, por causa da fala do mocinho: “Come on, boy!” (“Vamos, garoto!”).
Quando nasci, ainda não havia televisão em Fortaleza, mas ela chegou enquanto eu vivia minha primeira infância. Sempre me atraiu assistir ao “espelho mágico”. No início, salvo engano, a TV entrava no ar às seis da tarde e seguia até umas onze da noite. Cedo, por volta das oito, vinha o ultimato: “Boa noite, garotada”, marcando o fim da programação infantil ao som de “Acalanto”, na voz grave de Dorival Caymmi: “Boi, boi, boi. Boi da cara preta. Pega essa menina que tem medo de careta.” Hoje em dia, não se canta mais essa canção do folclore brasileiro. A letra teria uma conotação racista ao associar a feiura à imagem de pessoas negras.
No início, quando nem existia o videoteipe, a TV Ceará não contava com prefixo e sufixo musicais certos para sua abertura e encerramento. Tudo era ao vivo e com muita improvisação. Pioneira no Ceará, ainda em fase de desenvolvimento, com gente do teatro e rádio, alinhava-se à cultura local e à música popular brasileira.
O indiozinho, identidade visual das emissoras dos Diários Associados – antigo império de comunicação brasileiro criado por Assis Chateaubriand – ficou famoso como ícone da televisão da época.
Agora, engraçado era quando alguém ligava para reclamar do sinal da TV, e ouvia um chistoso: “Mude de canal.”
Situada na Estância, hoje Bairro Dionísio Torres, onde se acha a holding do Grupo Edson Queiroz na Avenida Antônio Sales, a TV Ceará reunia uma vasta lista de talentos, incluindo Aderson Braz, Américo Picanço, Toinho Mendes, Armando Vasconcelos, Ary Sherlock, Augusto Borges, Ayla Maria, B. de Paiva, Cândido Colares, Cleide Holanda, Dora Barros, Eduardo Campos, Emiliano Queiroz, Glice Sales, Gonzaga Vasconcelos, Guilherme Neto, Hiramisa Serra, Irapuan Lima, Isis Martins, Jane Azeredo, João Ramos, Jório Nerthal, Karla Peixoto, Lurdes Martins, Marcus Belmino (Ponhonhon), Marcus Miranda (Praxedim), Maria José Braz, Narcélio Limaverde, Neide Maia, Paulo Limaverde, Polion Lemos, Renato Aragão, Ricardo Pontes, Rinauro Moreira, Rita Angélica, Sebastião Belmino, Silvia Ramos, Terezinha Silveira, Wilson Aguiar (Cheiroso), Wilson Machado, entre outros.
Muitos dessa lista eram meus ídolos. Uma vez, no antigo Aeroporto Pinto Martins, vi Eduardo Campos, o Manuelito, e corri para apresentá-lo aos meus filhos pequenos: “Esse senhor criou muitas das histórias da minha infância feliz!” Ele sorriu e agradeceu, humilde – como fazem os grandes.
Pois é, a chegada da televisão mudou o costume de vida do fortalezense.
*Totonho Laprovítera
Arquiteto, escritor e artista plástico.