“Ó Tempora, ó mores!” – Por Irapuan Diniz de Aguiar

Irapuan Diniz de Aguiar é advogado. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Ó Tempora, ó mores!”, eis artigo de Irapuan Diniz de Aguiar, advogado e professor. “Em meio a esta verdadeira ‘selva de pedra’, o homem robotizou-se, esqueceu-se de olhar para dentro de si, não mais cultivando, no dia-a-dia, os valores do espírito, como a amizade, a gratidão, a partilha, o reconhecimento e a fraternidade, que são eternos e imensuráveis”, expõe o articulista.

Confira:

A inversão de valores que caracteriza as relações pessoais na sociedade contemporânea angustia a quantos educados e formados dentro de padrões de conduta que não se coadunam com as práticas presentes nos dias atuais onde os princípios éticos e morais de convívio social foram substituídos pelos culto ao individualismo e ao estímulo de uma competitividade que há impulsionado a todos para uma corrida desenfreada na busca de “um lugar ao sol”, a um consumo desnecessário ou a conquista do poder, sem reservar qualquer espaço à solidariedade e ao respeito ao próximo.

Em meio a esta verdadeira ‘selva de pedra’, o homem robotizou-se, esqueceu-se de olhar para dentro de si, não mais cultivando, no dia-a-dia, os valores do espírito, como a amizade, a gratidão, a partilha, o reconhecimento e a fraternidade, que são eternos e imensuráveis. Ao contrário, redirecionou seus passos em função de um novo projeto de vida que, para viabilizá-lo, despreza as regras mais elementares de convivência humana, eis que passou a ser guiado por sentimentos menores, dentre os quais a deslealdade, a ingratidão, o ódio, o rancor, a arrogância e a prepotência, neste mundo marcado pelo egoísmo e a intolerância.

Nesse contexto, a sociedade serviu-se de outros parâmetros, de uma nova régua para medir este mesmo homem. Na nova medida, o homem tanto mais vale quanto mais tem ou quanto mais pode. Não importa, pois, o que ele é ou os valores que cultiva. O verbo TER é mais significativo do que o SER. Sem dúvida, tal equívoco de avaliação guarda correspondência com a importância hoje conferida aos valores materiais, ainda que efêmeros.

Percebe-se, nos últimos anos, uma reação de segmentos sociais contra essa inversão de valores, capitaneada pela Igreja Católica através de seus movimentos leigos, numa grande cruzada em defesa da família e de resgate dos sentimentos provindos da alma que, por serem permanentes, dão o verdadeiro sentida à vida. O despertar destes valores, contudo, ainda não produziu frutos na mente e no coração de algumas pessoas, notadamente aquelas que exercem o múnus público. Com efeito, os detentores de poder têm se utilizado deste poder como instrumento de pressão, ao sabor de seus desejos, caprichos ou conveniências, sejam políticas, judiciais ou administrativas.

Esta é a regra. A lei, por isto mesmo, há se constituído num entrave, num empecilho à realização de suas vontades, em vez de se tornar uma referência a ser, obrigatoriamente, observada. A postura de autossuficiência, de inobservância aos regramentos estabelecidos faz com que dirigentes públicos, de par com o princípio bíblico de ‘dar o pão a quem tem fome’, acrescente às suas condutas o complemento ‘e sede de justiça a quem tem pão’. Ó tempora, ó mores!

*Irapuan Diniz de Aguiar,

Advogado e professor.

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