Com o título “Nova Carta para Ciro Gomes”, eis artigo de Luis Filipe Chateaubriand, professor de Administração Estratégica e autor do livro “Futebol Brasileiro: Um Novo Projeto de Calendário. “Sua soberba está acima de todas as virtudes”, aponta o articulista.
Confira:
Prezado Ciro Ferreira Gomes,
Fui seu maior admirador político por nada menos que 27 anos – de 1991 a 2018.
Sua oratória, sua inteligência surreal, sua capacidade de gestão, sua formação, seu currículo, seu projeto nacional de desenvolvimento, sua social-democracia, sua visão de centro esquerda, etc, etc, etc.
Votei em você para Presidente da República três vezes, em 1998, em 2002 e em 2018.
Na eleição de 1998, inclusive, trabalhei voluntariamente em sua campanha – e, nas últimas duas vezes, trabalhei informalmente.
Fui obrigado a ler a declaração de uma amiga minha, em 2018, que “o Ciro Gomes é aquele político que afina o instrumento com a esquerda e toca com a direita”.
Fiquei indignado.
Pois… eis que ela estava certa!
Nas eleições presidenciais, resolveu se afastar, oportunisticamente, de Luiz Inácio Lula da Silva.
Temia que a farsesca operação Lava Jato contaminasse suas intenções de votos.
Pressionou Fernando Haddad a pedir para Luiz Inácio Lula da Silva abdicar de sua candidatura, em favor de você.
Luiz Inácio Lula da Silva, preso, se negou a abdicar da sua candidatura, por dois motivos:
Queria levar sua candidatura até o máximo que pudesse, para defender o seu legado.
Queria evitar que a estridente militância petista protestasse, pois eles só admitiriam candidatura própria do partido.
No entanto, você, Ciro, “pavio curto” que é, preferiu se sentir melindrado, ao invés de continuar negociando.
Tempos depois, a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, lhe convidou para ser candidato a Vice-Presidente, na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva.
A estratégia parecia bem clara: Luiz Inácio Lula da Silva seria impedido de concorrer, por estar preso; e você, Ciro Ferreira Gomes, assumiria a cabeça de chapa, concorreria em uma aliança com o Partido dos Trabalhadores, e se elegeria Presidente da República.
Só que não!
Você se recusou a ser Vice de Luiz Inácio Lula da Silva.
Por vaidade, por egocentrismo, por ser um péssimo estrategista em campanhas eleitorais.
Teve medo de ganhar.
Aliás, você se treme de medo de ganhar, desde sempre.
Aí, o Partido dos Trabalhadores foi obrigado a lançar Fernando Haddad, que foi para o segundo turno contra o príncipe das trevas.
Bom, aí todos acharam que você iria apoiar Fernando Haddad, contra a possibilidade do príncipe das trevas se eleger.
Só que não!
Preferiu, cinicamente, ir para Paris e para Roma, a passeio, para não ter que apoiar Fernando Haddad.
E o príncipe das trevas venceu.
Por culpa sua.
Absolutamente sua.
Inequivocamente sua.
Traiu a esquerda.
E, aí, de nada vale sua oratória, sua inteligência surreal, sua capacidade de gestão, sua formação, seu currículo, seu projeto nacional de desenvolvimento, sua social-democracia, sua visão de centro esquerda, etc, etc, etc.
Sabe por quê?
Porque sua soberba está acima de todas essas virtudes.
Ao deixar a soberba prevalecer sobre suas outras virtudes, se perde… perde para si próprio, sempre.
E este modesto escriba, que tanto se empenhou para lhe eleger, desde 2018 não mais o faz e trabalhará, doravante, contra isso.
Segura o instrumento com a esquerda e toca com a direita?
Pode ser.
Ou, melhor, deve ser.
*Luis Filipe Chateaubriand
Professor de Administração Estratégica e autor do livro “Futebol Brasileiro: Um Novo Projeto de Calendário”.