“Achado ao acaso, escritos de cronista se livram do lixo e viram livro” – Por Flamínio Araripe

Flamínio Araripe é jornalista e pesquisador.

Com o título “Achado ao acaso, escritos de cronista se livram do lixo e viram livro”, eis artigo de Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador. Ele escreve livro sobre o trabalho do seu pai, Jósio Araripe, que, por sinal, teve centenário lembrado no Crato.

Centenário do autor será comemorado no Instituto Cultural do Cariri

Confira:

Hoje empreendedor no ramo de transporte e agropecuária, Valberto Viana Xavier, conhecido por Valdo, gerenciava o minifúndio rural que herdamos de nosso pai, Jósio de Alencar Araripe, na Santa Fé, distrito do Crato. Tão logo vendemos o sítio, o novo proprietário, Alberto Jamacaru, começou a fazer melhorias na propriedade, organizando a gleba com a sua experiência na administração agropecuária, mas não quis entrar na casa, onde ficara toda mobília, livros e o conteúdo das gavetas e guarda-roupas.

Morávamos em Fortaleza, sem tempo para ir ao Crato para tirar as coisas da casa e liberar o imóvel. Os três irmãos, eu, Tiago e Leonel – as duas irmãs em Brasília (Zínia) e Mato Grosso do Sul (Donita) -, todos no corre-corre da vida profissional.

Transmitimos a Valdo a decisão de doar todos os livros e revistas da casa para bibliotecas do Cariri. Nesse processo, Valdo encontrou na gaveta de uma escrivaninha duas pastas com as crônicas de Jósio, cópias em papel carbono datilografadas em espaço um.

● Isso deve ser importante! – deduziu Valdo, ao abrir as duas pastas. Resolveu guardar os papéis na casa dele.

Nesse ínterim, surgiu uma viagem de trabalho da minha mulher, Dulcinea Gil, que veio ao Crato fazer um vídeo para a Funcap sobre os fósseis da bacia sedimentar do Araripe. Num intervalo das filmagens, Dulcinea veio a Santa Fé para escolher que móveis deviam ser levados para Fortaleza. Na ocasião, Valdo lhe entregou as duas pastas com as crônicas de Jósio.

Centenário de Jósio Araripe

Ao ver o material, assumi o compromisso de tornar públicos os escritos de meu pai. Conto essa história no livro “Jósio de Alencar Araripe – A Palavra sem Medo”, que foi lançado no dia 23 de julho, às 19h30, no Instituto Cultural do Cariri, na entrada principal da ExpoCrato.

O evento comemorou o centenário de nascimento de Jósio de Alencar com o lançamento do livro em sua homenagem e do livro “Eneida Figueiredo Araripe – Uma Trabalhadora na Educação – Vida e Obra”. Escritos e organizados pelo jornalista Flamínio Araripe, filho deste casal de ilustres cratenses, ambos trazem um perfil biográfico, dados de genealogia, depoimento dos filhos e a produção intelectual dos homenageados.

O livro de Jósio, com prefácio de Carlos Rafael, faz uma reconstituição do ambiente político do Crato nos anos 1971 a 1975 com depoimentos de Antônio Vicelmo, Eudoro Santana, Samuel Araripe, Rosemberg Cariry, Alemberg Quindins, Emerson Monteiro, Moema Araripe e Jales de Alencar Araripe, irmãos do homenageado. Os testemunhos reconstituem o clima político do Crato sob domínio de políticos da Arena na ditadura militar, e o movimento de resistência da oposição no MDB.

Eneida Figueiredo Araripe cursou Geografia na Faculdade de Filosofia do Crato, hoje Universidade Regional do Cariri, onde lecionou até se aposentar. Cursou pós-graduação na Universidade Federal do Ceará. Foi secretária de Educação no município do Crato e dedicou-se a uma carreira na educação desde sua formatura como professora no Colégio Santa Teresa, depois lecionou na Urca e no Colégio Estadual Wilson Gonçalves.

Jósio de Alencar Araripe – Advogado, vocacionado para as atividades da agropecuária, manteve comércio de implementos agrícolas no Crato. Foi promotor de Justiça em Barbalha. Deixou o Ministério Público para dedicar-se à gestão de fazenda de gado e à atividade política de seu pai, Antônio de Alencar Araripe, deputado federal por 12 anos. Vereador por dois mandatos, foi secretário da Prefeitura do Crato e Procurador do Município. Fundou e presidiu o MDB no Crato, se candidatou a prefeito do município e a deputado estadual. Manteve no início dos anos 1970 o programa ”A Palavra sem Medo”, em que escrevia crônicas diárias transmitidas pela Rádio Educadora do Cariri na voz do jornalista Antônio Vicelmo.

*Flamínio Araripe

Jornalista e pesquisador.

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