“Não vai funcionar” – Por Marcos Holanda

Marcos Holanda já presidiu o BNB e é PhD em Economia. Foto: Reprodução

“Vão aumentar a divida publica, alimentar propaganda e agradar as federações patronais”, aponta o economista Marcos Holanda

Confira:

As recentes medidas anunciadas pelos governos estadual e federal para enfrentar o tarifaço não vão funcionar naquilo que é mais importante, a preservação de salários e empregos dos trabalhadores. Vão aumentar a divida publica, alimentar propaganda e agradar as federações patronais, mas dificilmente vão evitar a redução das atividades das empresas e por consequência o desemprego.

A razão é simples: as tarifas são um choque de demanda e não de oferta. Em um choque de oferta faz sentido apoiar as empresas de forma emergencial para que essas mantenham suas atividades e continuem empregando e produzindo, pois a demanda por seus produtos continua existindo. Com as tarifas temos uma situação diferente pois a demanda de um mercado muito importante deixa de existir. De que adianta continuar produzindo se não existe a demanda? Nesse sentido a situação do Ceará é particularmente difícil pois ele é o estado de todo o Brasil que mais destina exportações tarifadas para os Estados Unidos. Na situação atual os efeitos macro das tarifas no Brasil são limitados, mas os efeitos micro no Ceará serão perversos.

Crédito subsidiado, incentivo fiscal, crédito tributário podem até beneficiar as empresas, mas não vão criar demanda. O discurso de procurar novos destinos para nossas exportações é apenas isso: um discurso. Redirecionar comercio internacional não é simples e não acontece no curto prazo. Questionar a ações dos EUA na OMC é mais insignificante ainda. Substituir a demanda dos Estados Unidos pela demanda do próprio governo é irrealista.

O que fazer? Ser realista e pragmático. Se China e Índia estão negociando tem que negociar. Se o Japão e Europa entenderam o poder de barganha dos EUA e cederam não vai ser o Brasil que vai querer negociar em igualdade de condições. Se nenhum país está batendo de frente e defendendo a substituição do Dólar precisa parar com esse discurso.

No lado emergencial concentraria o uso dos recursos públicos na proteção dos trabalhadores garantido os salários pelos próximos 90 dias mesmo que as empresas tenham que diminuir ou suspender suas produções. Isso poderia ser operacionalizado na forma de uma bolsa emergencial. O seguro desemprego paga uma parte e a bolsa complementa.

No novo mundo que está aí continua valendo a velha premissa que um diagnóstico correto é essencial para políticas públicas efetivas. Por outro lado, nesse novo mundo comandado pela geopolítica, discursos ideológicos ou obsoletos não são o caminho.

Marcos Holanda é professor e PhD em Economia

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Uma resposta

  1. Por que não direcionar a produção taxada para o mercado interno? Não seria Uma prejuízo menor para os exportadores? Gostei de sua sugestão de o governo ajudar os trabalhadores com bolsas por tempo determinado. Parabéns pelo excelente artigo!

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