“Oásis” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título”Oásis”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto yrbanista, escritor e artista plástico. Ele aborda Bigorrilho. Saiba quem é?

Confira:

Edmilson Pereira Gomes. Mas quem é que o chama assim? Todo mundo em Fortaleza conhece mesmo é por Bigorrilho – cantor, compositor e, segundo muita gente, o maior intérprete que “Súplica Cearense” já teve o prazer de encontrar.

O “Dicionário de Figuras Populares do Ceará” explica direitinho: o apelido veio de um coco de Paquito, Romeu Gentil e Sebastião Gomes, lá de 1963, com uma pontinha de inspiração num lundu de Xisto Bahia e num samba de Pixinguinha, aquele que já brincava com o mote folclórico “Trepa, Antônio, siri tá no pau”. Quem gravou primeiro foi Jorge Veiga, depois foi regravado por um punhado de artistas – de Renato e Seus Blue Caps, passando por Jair Rodrigues, a Lulu Santos.

Pois bem. Era meados dos anos 1990 quando um político conhecido da terrinha resolveu, sabe-se lá por que, conhecer a Oásis – a casa noturna mais falada da cidade, templo da dança de salão e refúgio dos românticos, das balzaquianas mais festeiras e ajeitadas de Fortaleza. Mas ele não queria ser visto, não. Pediu a um amigo para levá-lo escondido.

O amigo, todo solícito, fez o arranjo com o garçom Careca – homem de confiança – para reservar uma mesa num cantinho discreto, longe de olhares curiosos. Até que tudo ia bem… até Bigorrilho, no meio de uma música, interromper o canto e soltar no microfone: “Senhoras e senhores, é com imensa honra e risonha alegria que recebemos nesta noite maravilhosa a visita de um dos mais importantes políticos do Ceará. Deputado Fulano de Tal, em nome do professor Henrique, proprietário da casa, seja muito bem-vindo!”

Foi um silêncio de três segundos. O suficiente para o povo virar o pescoço e fitar o homem. O deputado, avexado, chamou o amigo, deixou uma bolada em cima da mesa, acenou para todos e sumiu do mapa. A risada foi geral. E Bigorrilho, com aquele jeito matreiro, ainda completou: “Música, maestro!”

Falando em Oásis, nas terças-feiras, quem não faltava lá era meu saudoso amigo Chico Pio. Dançava a noite todinha. Um dia de quarta, cedo, ligou todo animado:

-Papai, foi bom demais!
-Conta, Chico.
-Dancei das dez às quatro da matina!
-Muita mulher?
-Muita… mas dancei só com uma.
-Bonita?
-Simpática… mas, papai, e o litro de Red na mesa?!

*Totonho Laprovítera

Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

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