Com o título “Autorresponsabilidade não combina com se fazer de vítima e clamar por anistia para os julgados no STF”, eis artigo de Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador.”Não se encaixa neste ensinamento de Paulo Vieira a atitude de fazer cara de vítima. Não adianta choramingar, se encher de razão e apelar a passar pano, apagar com a borracha, esquecer, enfiar no projeto de anistia todos os réus, sem dar importância aos praticados”, expõe o articulista.
Confira:
Nos eventos do 7 de Setembro, não pude deixar de lembrar dos cursos do coaching Paulo Vieira, autor de diversos livros, entre eles “O Poder da Autorresponsabilidade”. Soube com espanto que seguidores desta formação foram às ruas para esbravejar pela anistia dos réus implicados na tentativa de golpe de Estado. Alguns com bandeirinhas dos EUA, o país que sobretaxou em 50% as exportações do Ceará, a ponto de o governo Elmano de Freitas decretar Estado de Emergência, pelo impacto na economia do estado.
Vejam se não é de estranhar, uma vez que o conceito de autorresponsabilidade de Paulo Vieira é a prática de assumir total responsabilidade pela própria vida, decisões, atitudes e resultados, tanto nos sucessos quanto nos fracassos. O coaching propõe leis e práticas para desenvolver a autorresponsabilidade, entre elas assumir as consequências das próprias ações, abandonar a mentalidade de vítima, focar em soluções, estabelecer metas claras e agir com inteligência e planejamento. Alguma coerência com a imposição do projeto de anistia?
Não se encaixa neste ensinamento de Paulo Vieira a atitude de fazer cara de vítima. Não adianta choramingar, se encher de razão e apelar a passar pano, apagar com a borracha, esquecer, enfiar no projeto de anistia todos os réus, sem dar importância aos praticados. O julgamento cumpre o rito da Constituição no estado democrático, como previsto na lei, com direito de defesa no processo em curso no STF. A noção de autorresponsabilidade cabe a ser aplicada por um terceiro, no caso o STF, com as penas estabelecidas na legislação.
Vale voltar a ler o best seller do famoso coaching, que figurou por um tempo na lista dos mais vendidos no país. Recomendo abrir o livro com marcador colorido na mão e caderno para anotar o resumo. Até cair a ficha. Perguntando a si mesmo qual a sua responsabilidade no país e no estado onde vive.
Para Paulo Vieira, a autorresponsabilidade é tomar o “leme da própria vida”. Isto significa uma tomada de consciência, parando de transferir culpas, agindo de forma proativa e
consciente para construir a vida que deseja, de modo a assumir na íntegra o controle de suas escolhas e aprender com os erros. O autor enfatiza que, ao invés de culpar fatores externos ou outras pessoas, o discípulo de coaching deve reconhecer que ele é a único responsável por sua realidade e, portanto, o única capaz de mudá-la.
Essa consciência é vista como libertadora, pois tira a crença de dependência dos outros para alcançar objetivos e promove o protagonismo individual. Para Paulo Vieira, a autorresponsabilidade é apresentada como uma chave para o crescimento pessoal e profissional, capaz de transformar resultados e gerar mudanças positivas em todos os aspectos da vida. Inclusive para defesa da nossa democracia, com todo vigor, em que cabe solidariedade aos que vão cumprir as merecidas penas.
*Flamínio Araripe
Jornalista e pesquisador.