Categorias: Artigo

“A armadilha da dependência: até quando o Brasil vai trocar desenvolvimento por populismo?”

Ionete Siqueirra é pedagoga

“O que acontece quando os prazos de pagamento chegarem e os juros continuarem altos?”, aponta a pedagoga Ionete Siqueira

Confira:

O Brasil tem um potencial gigantesco para crescer, inovar e oferecer uma vida digna para sua população. No entanto, ao invés de construir políticas sólidas que promovam o desenvolvimento sustentável, seguimos presos a uma lógica ultrapassada de dependência do Estado. A recente declaração da ministra Gleisi Hoffmann – *”O juro tá alto? Pega um empréstimo do Lula!”* – escancara esse problema e reforça um modelo econômico que não apenas mantém o Brasil à margem do desenvolvimento, mas também condiciona sua população a um ciclo vicioso de dependência política.

Personalismo na Economia: Um Retrocesso Perigoso

Crédito público não é favor de governo, muito menos do presidente. O acesso a financiamento deve ser uma política de Estado, regulada por instituições independentes e não por discursos populistas que tentam transformar um direito em um presente concedido por um líder. Esse tipo de comunicação não só viola princípios básicos da administração pública, como também contribui para a perpetuação do subdesenvolvimento.

A economia brasileira precisa de reformas estruturais, de investimentos em produtividade, de um ambiente de negócios favorável, de segurança jurídica para atrair capital. Mas, em vez disso, o que temos? Um governo que prefere vender a ilusão de que o presidente é o ” *grande provedor* ” e que, sem ele, o povo ficaria sem alternativas. Esse discurso é perigoso porque desloca a responsabilidade do crescimento econômico das instituições e do mercado para a figura de um político.

O Perigo do Efeito Rebote: E Se o Empréstimo Não Resolver?

E se, mesmo pegando esses empréstimos do “Lula”, a população continuar endividada? O que acontece quando os prazos de pagamento chegarem e os juros continuarem altos? O governo oferecerá um novo empréstimo? Vai transformar essa dívida em assistencialismo permanente?

A resposta mais provável é que essa estratégia apenas aprofundará a crise. O crédito irresponsável não resolve a desigualdade e não gera riqueza – pelo contrário, pode empurrar milhões de brasileiros para uma situação ainda pior, onde o endividamento cresce e as soluções reais nunca chegam.

O grande problema é que, ao invés de fortalecer a população e a economia, o governo está incentivando a dependência. Quando o Estado se coloca como a única alternativa, ele mina a autonomia da sociedade e perpetua um sistema em que as pessoas não conseguem caminhar sem a *”mão do governo”.* Isso não é política de desenvolvimento – é um mecanismo de controle.

A Fuga de Cérebros: O Brasil Perde Sua Riqueza Intelectual

E quando a população percebe que esse modelo de economia não gera oportunidades reais, o que acontece? A resposta já está diante de nós: a crescente imigração de brasileiros em busca de melhores condições no exterior.

Cada jovem qualificado que deixa o Brasil porque não encontra perspectivas aqui representa não apenas um drama pessoal, mas um prejuízo coletivo. O país investe anos na formação de profissionais que, ao invés de impulsionarem nosso próprio crescimento, acabam contribuindo para a economia de outras nações.

Mas a fuga não acontece apenas por razões econômicas. O Brasil também se tornou um país inseguro socialmente, com altos índices de criminalidade e um Estado incapaz de garantir segurança pública. Pessoas não estão apenas deixando o país por falta de trabalho, mas também por medo. Segurança, afinal, não é apenas ter um emprego – é poder viver sem o risco constante da violência urbana e da instabilidade política.

Será que, além de um povo endividado, também queremos perder nossas divisas intelectuais? Quando os melhores talentos partem, o Brasil fica ainda mais dependente, com menos inovação, menos competitividade e um futuro comprometido.

O Populismo e o Abismo que Criamos

Esse modelo de governo personalista, que coloca um líder como a solução para todos os problemas, nos trouxe a esse abismo: uma população que não vê alternativas além do Estado, uma economia sufocada pela falta de competitividade e um êxodo de cidadãos que buscam dignidade e segurança fora daqui.

Essa dependência política foi amplamente criticada por Barry Buzan, que argumenta que a segurança econômica e social só pode ser garantida quando há instituições fortes e independentes do governo de turno. Para ele, sociedades que não consolidam suas instituições vivem sob constante instabilidade e insegurança, o que resulta em fuga de talentos e colapso do desenvolvimento sustentável.

Outro autor que reforça essa crítica é *David Held, que defende que um Estado verdadeiramente democrático* precisa de transparência na governança e autonomia institucional. Quando um governo condiciona soluções econômicas à figura de um líder, ele enfraquece as instituições e transforma políticas públicas em mecanismos de poder. Para Held, esse tipo de prática torna a população cada vez mais vulnerável, pois, em vez de se estruturar com bases sólidas, a economia se torna refém de decisões políticas momentâneas e populistas.

A política econômica brasileira, ao invés de estimular o crescimento real, está se tornando um instrumento de manipulação. As pessoas não estão sendo incentivadas a prosperar por conta própria, mas sim a depender do governo para sobreviver. Isso não é desenvolvimento – é um atraso planejado.

Brasil: Potência ou Eterno País Periférico?

O Brasil não pode continuar refém de uma lógica onde o crescimento depende de líderes carismáticos e não de planejamento estratégico. Nosso país precisa se posicionar como uma potência, fortalecer suas instituições, estimular o empreendedorismo e criar condições reais para que os brasileiros prosperem sem depender de benesses estatais.

Enquanto a política econômica continuar sendo usada como ferramenta de manipulação política, ficaremos presos a esse ciclo vicioso de estagnação. E o pior: corremos o risco de, no futuro, não termos mais para onde recorrer quando a conta dessas políticas populistas chegar.

Se queremos um país realmente desenvolvido, precisamos urgentemente romper com essa cultura da dependência e exigir um governo que trabalhe para criar um ambiente econômico forte, e não apenas para fortalecer a própria imagem. Porque se não fizermos isso agora, corremos o risco de ver nossa maior riqueza – o talento do nosso povo – sendo desperdiçada fora daqui.

E aí fica a pergunta: até quando vamos assistir ao Brasil perder seus cérebros e suas oportunidades enquanto seguimos presos a um modelo falido de dependência?*

Ionete Siqueira é pedagoga e servidora pública da Rede Estadual de Ensino do Ceará

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais