“A Arte de Dormir” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera, o contador de histórias. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “A Arte de Dormir”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico. O tema é, por demais, reconfortante.

Confira:

Certa vez, tomei um dos meus maiores sustos: uma queda de rede que sofri. Pense numa aflição! Eu dormia e sonhava estar viajando em um avião, até a aeronave balançar e, em pesadelo, veio o sinistro. A estrutura cedeu à turbulência e… bufo! A rede se rasgou em zigue-zague, e fui ao chão. Só não me lasquei todo graças a um travesseiro na cabeça, mas o espinhaço sofreu. Sorte não haver penico nem bacia debaixo da fianga.

A respeito do sinistro, muitos disseram que a fadiga de material foi ocasionada pelo uso excessivo de Q-boa. A perícia aventou a possibilidade da rede ter sido rasgada por alguma onça feroz. Por fim, todos mencionaram e alertaram que três “quês” matam um velho: queda, catarro e caganeira.

Dormir é essencial para o corpo e a mente. Regula o metabolismo, repara tecidos, fortalece a imunidade e previne doenças. Dizem que também dormimos para sonhar. Seja na rede ou na cama, o importante é o aconchego. A rede convida ao descanso, à conversa e ao balanço tranquilo, enquanto a cama garante conforto e segurança. Cada uma embala momentos de prazer à sua maneira.

O essencial na arte de dormir é o corpo se sentir em casa. Alternar entre uma rede e uma cama é o segredo. Para um sono de qualidade, sugiro: rede de pano, de preferência em algodão cru – que não escorrega e ajuda no coçar de um bicho-de-pé. Punhos reforçados, varanda larga e bem tramada para barrar muriçocas. Deve ser armada com regulagem média, nem muito alta, nem muito baixa.

A cama deve ser larga e macia. O colchão precisa de um meio-termo: muito duro ajuda a coluna, mas sacrifica os joelhos. Para um sono mais reparador, sugiro: lençol amaciado pelo tempo, colcha de chenille e manta de algodão cru; travesseiros em três tamanhos – pequeno para a cabeça, médio entre os joelhos e grande para o tronco – além de um encosto triangular para as costas,  exclusivo para a cama, por conta do refluxo.

Além disso, alguns acessórios e utensílios podem fazer toda a diferença: protetor auditivo; garrafa térmica com água gelada; máscara para os olhos; aparelho de ar-condicionado ou ventilador com três velocidades; papagaio (urinol) ou penico; radinho de pilha que sintonize AM e FM.

Agora, se quer saber a posição ideal para o sono, o melhor é ficar bem bambo, de corpo mole e solto, e com a cabeça apontada para o norte. Assim, o descanso chega de mansinho, trazendo sonhos bons e um amanhecer leve feito brisa da praia.

No mais, cuidado com Morfeu, deus grego dos sonhos conforme a mitologia grega. Ele pode tirar a força dos sonhos dos mortais, e cultivar segredos e artimanhas para aumentar seus poderes.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico.

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