A arte na coletividade – Por Mirelle Costa

Quem nos reconhece antes que nos reconheçamos? Há quarenta e seis anos, a Organização Educacional Farias Brito criou a Coletânea FB. Eu tinha apenas treze anos quando participei desse projeto que reúne poesias, redações, contos, crônicas e desenhos produzidos pelos alunos e selecionados para a publicação anual que incentiva e legitima artistas. Fui convidada para reviver essa emoção vinte e cinco anos depois. Tive uma grata surpresa ao ver que o projeto segue cada vez mais forte.

A supervisora pedagógica do Colégio Farias Brito, Greici Reis, fala com orgulho sobre o projeto. “O grande objetivo da Coletânea FB é incentivar os alunos a serem protagonistas de suas histórias, na leitura e na escrita. A cada ano somos surpreendidos pela qualidade dos trabalhos. Podemos imaginar a obra que reúne os desenhos, as redações em prosa, as crônicas, os contos e as poesias como um tecido que deslumbra em traços preciosos o resultado de uma peça inestimável”, conta a professora.

Na noite de gala, família inteira reunida. Mirela Studart participa da Coletânea FB há quatro anos e conta que desde o ensino fundamental escreve poesias. O pai, Jorge André Medeiros, conta que a filha começou a escrever aos sete anos de idade. “Sempre incentivamos o hábito da leitura e da escrita. Ela recebeu um convite da avó dela, minha mãe, que também é escritora, para participar do Centro de Cultura do Ceará. Desde então, não parou mais. No ano passado, ela e minha esposa ganharam o primeiro lugar”, orgulha-se o pai.

Céu Studart veio prestigiar a filha e também recebeu a medalha por ter obtido o segundo lugar na Coletânea FB 2024, na categoria poesia. A filha Mirela é autora da poesia “Memórias de Uma Vida”, que foi contemplada com o segundo lugar também na categoria poesia. “Eu me emociono a cada edição. Poesia é vida! Estou muito feliz ao ver a Mirela trilhar esse caminho e, desde o ano passado, o colégio dá oportunidade para os pais participarem, então é uma celebração em família”, emociona-se a mãe Céu Studart, professora e estrategista na área de branding.

Neste ano, a pesquisadora, professora e escritora Marília Lovatel foi a homenageada da publicação. “É um projeto generoso, pois estimula diversas produções artísticas e revela talentos por meio da coletânea. A publicação abrange das menores crianças aos jovens estudantes que estão no pré-vestibular, por isso a publicação repercute de forma tão positiva. Trabalho no Farias Brito há mais de vinte anos e a Coletânea FB é um importante incentivo aos alunos, pais e funcionários a buscarem sua própria voz. A escrita é o meu elemento, compõe minha espinha dorsal, é o que dá sentido à minha existência. Estou emocionada com essa homenagem, pois acompanhei os bastidores de diversas edições da coletânea. Desejo que todos encontrem aquilo que os move e esse projeto ajuda nessa busca’’, aponta Marília Lovatel, mestre em Literatura pela Universidade Federal do Ceará. A escritora publicou dez livros, entre eles “A menina dos sonhos de renda”, com o qual foi finalista do prêmio Jabuti em 2017. Marília Lovatel também foi vencedora da 20ª edição do Prêmio Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil com o livro “Salvaterra – Breve romance de coragem”. 

A publicação ganhou mais páginas e centenas de histórias eternizadas. Outra novidade à minha época é que pais de alunos e funcionários também podem submeter seus desenhos, poesias, redações, contos e crônicas à publicação. Raquel Figueiredo Barretto é mãe do aluno Rafael Figueiredo Coelho. Com a poesia “Marília Lovatel: Obras em Verso” foi contemplada com o primeiro lugar. A professora conta que é apaixonada pela literatura. “​​​​​​​​​​​​Participei da Coletânea FB pela primeira vez quando o projeto homenageou Maria Clara Machado. Minha ideia original era apenas incentivar meu filho, Rafa. Este ano resolvi participar novamente e escrevi um poema que conta um pouco sobre os livros da Marília Lovatel, autora que aprecio muito. Em 2024, acredito que já tenha lido uns 77 livros, mas nunca me preocupo com a quantidade, acredite! Não conto página, leio quando posso, quando almoço sozinha, quando estou esperando em algum consultório, leio sem pressão, quando estou com vontade. Romances ficcionais são os meus preferidos. A Coletânea FB aproxima a leitura de todos os públicos, homenageia grandes autores da literatura e organiza a primeira publicação de muitos autores”, alegra-se a professora Raquel Figueiredo Barretto.

Em 1999, senti a sensação de ter uma poesia minha publicada na Coletânea Jovem FB. A minha edição, assim como as medalhas, seguem guardadas com muito carinho. O Farias Brito foi o colégio onde estudei desde a primeira série até o terceiro ano do Ensino Médio. Hoje, como jornalista e escritora, tendo sido selecionada nos editais da Secult Ceará e Secultfor, na categoria literatura, fico pensando no quanto aquela publicação com marcas do tempo ainda diz muito sobre mim. Na caminhada da vida, olhar para trás e enxergar quem fomos, um dia, pode nos dar a luz que precisamos para seguir adiante e, quem sabe, pensar o futuro. Valeu, “Tio” Tales (Sim, eu chamava os professores e diretores de Tio)! Aquela menina tímida e dentuça que devorava livros e “enfrentava” a escola inteira para ler a mensagem de fim de ano escrita por ela mesma ainda está aqui dentro. Ainda bem!