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“A Avenida, a Praça e o Castelo”

Barros Alves é jornalista e poeta

“Como gostaria de ser convencido de que o mister daquele que se debruça no garimpo do passado para escrever a história, necessita de um diploma universitário para tal”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.

Confira:

Em anos recentes, o injustificável renascimento de um diplomismo que remonta aos tempos em que o bacharelismo provinciano era sinal de sabença, causa dó e comiseração a tantos quantos se preocupam mais com o saber do que com sobraçar diplomas inócuos. E uma legiferância inconsequente tem dado suporte ao anacronismo da exigência de diploma para se ter o direito de pensar. Não estranhemos, portanto, se em breve legisladores idiotas, arrimados em conselheiros de centros universiOtários, criarem a exigência de diploma para os poetas. Antes, porém, eu gostaria de ver um bom poeta formado em curso de Letras ou de Literatura. Como gostaria de ser convencido de que o mister daquele que se debruça no garimpo do passado para escrever a história, necessita de um diploma universitário para tal. Esta observação vem a propósito da inveja que nos dias atuais tem grassado entre historiadores de diploma, em relação a jornalistas que adentram na seara da História, pesquisando e publicando com sucesso o resultado do trabalho. É o caso, entre outros, de Laurentino Gomes, que já escreveu vários “best sellers” e, entre nós, o jornalista Lira Neto, que depois do sucesso resolveu fazer um doutorado em História, simplesmente porque é aderente ao besteirol do politicamente correto, desse artifício não necessitando, uma vez que não lhe falecem talento nem competência profissional. Vale observar, por pertinente, que o jornalista é naturalmente um historiador. Registra os fatos no calor da hora. E nem eu sou contra a academia. Abjuro o burrocratismo acadêmico.

A entusiasmada crítica introdutória é para chegar ao elogio, sem favor, a um dos mais sérios, competentes, corajosos e honestos jornalistas que conheço: Eliézer Rodrigues. Eis um profissional que auferiu ao longo de sua formação e do exercício jornalístico, não apenas os conhecimentos técnicos inerentes ao seu mister, mas um sentido arraigado da ética que forja o caráter dos homens de boa vontade. Eliézer adentra na seara da História com o mesmo vigor com que exerceu o jornalismo por mais de 40 anos. Destarte, quem ousará dizer que ele é incapaz de palmilhar com preeminência a escritura histórica, depois de haver lido os livros que escreveu sobre a Avenida Santos Dumont, sobre a Praça José de Alencar e, mais recentemente, sobre o Castelo do Plácido, um símbolo da arquitetura de uma época em Fortaleza, aureolado por uma história de amor? Em Eliézer emergiu o historiador que estava imerso em face da labuta cotidiana, pressurosa e ingente da redação do jornal.

A Avenida, a Praça e o Castelo são fragmentos culturais que contribuem para que compreendamos os caminhos e descaminhos da nossa querida Fortaleza, tantas vezes maltratada por diplomados (administradores, engenheiros, arquitetos, nenhum poeta) que de dentro de seus escritórios determinam o nascer e o morrer de logradouros, sem haurir o sentimento da população que dá vida à cidade.  Naquilo que pesquisou, Eliézer identificou e percebeu os elementos que identificam a necessidade de um posicionamento do “homo urbanus” em face da convivência e da utilização dos espaços públicos, com vistas a disciplinar as ações dos indivíduos sobre os objetos. Reafirmo que tudo o que está posto nas obras sobre a Avenida, a Praça e o Castelo, implica em que entendamos a importância dos lugares e caminhos urbanos que percorremos diariamente. Trata-se, de fato, de um registro histórico que recorta percursos da cidade, os quais aguçam nossa consciência como condição para uma mais saudável coexistência com os espaços. Esses espaços são tantas vezes não apenas transformados para necessárias adaptações, mas agredidos, vilipendiados, destruídos, causando-nos um sentimento de angústia e dolorosa saudade. Nos casos em tela, como em muitos outros, ainda que a paisagem tenha sido modificada pela ação às vezes intempestiva de insensatos, há sempre uma luz que alumia nossa memória pelas mãos de historiadores do quilate do jornalista Eliézer Rodrigues.

Barros Alves é jornalista e poeta

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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